Continuação dos posts anteriores.
Um homem que caluniava Dr. Antônio Ribeiro dos Santos...
Ela falava com
alguma frequência da Morte, sobretudo fazendo sentir a solidão da Morte. Quer
dizer, quando a pessoa estava para falecer, apesar de ter o quarto cheio de
parentes, amigos, etc., há alguma coisa que a separa de todo o mundo. Ela está
morrendo aos poucos e se aproximando do instante em que vai estar sozinha em face
de Deus, será julgada e terá de prestar contas de sua vida; e naquela hora será
precipitada no Inferno, ou mandada para o Purgatório, ou irá diretamente para o
Paraíso. E mamãe exprimia isso muito bem.
Dona Lucilia contava
fatos bonitos a respeito da morte. Por exemplo, o caso de um homem que fora
grande inimigo do pai dela. Era um chefe político daquela zona de Pirassununga,
onde ela nascera, um homem de boa família de São Paulo, mas que tinha em
relação ao pai dela um ódio gratuito, sem razão.
Várias vezes, esse homem pregou calúnias
contra o meu avô, o qual teve que se defender e sempre conseguiu provar que ele
estava sendo caluniado, e que o caluniador era aquele indivíduo, etc.
...é preso e pede a Dr. Antônio que o defenda
Meu avô era muito
bom advogado e, estando em Pirassununga, recebeu certo dia um telegrama desse
inimigo dele, que morava em São Paulo, dizendo o seguinte:
“Eu estou preso
porque fui acusado de tal crime. E devo ser julgado no dia tanto perante o
tribunal do júri de tal cidade — uma localidade próxima a Pirassununga. Como eu
não confio em ninguém tanto quanto no senhor, peço que aceite defender-me.”
Era uma sem-vergonhice
desse homem pedir, sem mais nem menos, que tivesse como advogado aquele que ele
caluniou. Ele deveria começar por dizer: “Eu reconheço que tais coisas assim
foram calúnias, peço perdão e misericórdia. A misericórdia consiste em
consentir em me defender.” Aí estaria bem. Mas, antes desse pedido de perdão e
de misericórdia, não se concebia.
Mas meu avô era um
homem — segundo ela contava, porque não o conheci — muito paciente e
misericordioso, e mandou telegrafar-lhe dizendo o seguinte: “Esperá-lo-ei na
estação quando o senhor descer do trem, e aceito o encargo que me confia.”
Em cidadezinha do
interior, máxime naquele tempo, esses fatos tinham uma importância enorme, todo
mundo queria ver a notabilidade chegar, com os soldados de um lado e de outro,
presa com algemas e ir para a cadeia. E era uma coisa horrível o que o povo
fazia, mas se a cadeia não era longe da estação, o prisioneiro ia a pé até a
prisão e com todo o povo acompanhando. E naturalmente os inimigos dele dizendo
coisas horríveis, contra as quais ele não podia se defender porque estava
manietado.
Quando meu avô
chegou à estação para receber o homem, percebeu que o local estava cheio de
inimigos do cliente dele. Então meu avô disse uma coisa mais ou menos desse
gênero, falando bem alto para todas as pessoas ouvirem:
“Todos sabem que
aqui chegará preso Doutor Fulano de Tal, mas nem todos têm conhecimento de que
ele vem como meu cliente. E sendo meu cliente está sob a minha proteção; por
causa disso qualquer ultraje feito a ele é uma ofensa contra mim. A honra dele
está sob o meu amparo, e eu quero saber quem vai por esta forma me agredir.”
O homem desceu do trem, meu avô mandou embora
os soldados e passou o braço por debaixo do braço dele. Cumprimentou-o
amavelmente, perguntou se tinha feito boa viagem; tudo isso na presença de
todos que lá se encontravam, que ficaram pasmos, porque era conhecida a
inimizade entre o réu e o advogado.
Depois disse: “Vamos
então!” E começou a atravessar a multidão, que abriu fileiras, e ele foi até a
cadeia, onde o homem ficou preso.
Continua.
Quanto mais leio, mais ainda desejo ler os fatinhos da vida de D. Lucília. Obrigada por esse apostolado. Salve Maria!
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