quarta-feira, 31 de maio de 2017

Bondade e intransigência

Minha mãe era de uma bondade que eu não saberia explicar. Inclusive na hora de perdoar, ela manifestava sempre uma indulgência, uma suavidade, nunca uma reclamação porque algo a tivesse atingido. Em suas repreensões não entrava a reivindicação de um direito próprio, mas a defesa de um princípio do qual seu espírito estava imbuído. E embora não soubesse explicitar os princípios, ela os possuía.
Por isso, suas repreensões não resultavam de uma irritação pessoal, mas de um princípio ofendido — inclusive o princípio da autoridade materna — mas sempre com tanta bondade, tanta paciência tanto perdão no que dizia respeito a si, que mesmo que se fizesse o pior contra ela, ela o suportava sem dizer palavra.
Por outro lado, que severidade em suas repreensões! Que seriedade no olhar! Que compenetração de que se tratava de fazer prevalecer um princípio! Que convicção de que se não conformasse minha vida com aqueles princípios, eu valeria muito menos para ela, porque em mim ela via mais o filho que deveria amar os princípios do que alguém que lhe deveria querer bem!
Ademais, quanta sabedoria no que dizia! Embora a voz fosse grave, a bondade nunca estava ausente. Sua intransigência para comigo estava sempre mesclada com a bondade.
Certa vez, no apogeu de minha vida escolar — eu nunca fui o primeiro de minha aula — voltei do Colégio São Luiz, após a festa da distribuição de prêmios, com quatro medalhas no peito. Naquele tempos ingênuos, os meninos vinham pela rua ostentando as suas medalhas, e assim vinha eu com minha roupa à marinheira. Quando mamãe me abriu a porta, afagou-me muito; foi uma alegria!

No ano seguinte, eu voltei com três medalhas. Abrindo a porta, ela me viu e disse: “Só três?” — E acrescentou intransigente: “Como é que você decaiu, o que aconteceu para você decair?” Mas tudo isso misturado com tanto afeto, tanta bondade e tanto carinho, que para mim foi uma preparação para compreender o que era a misericórdia de Nossa Senhora. Outro tanto poderiam os senhores dizer de suas mães.
Plinio Corrêa de Oliveira

Um comentário:

  1. La Sra: Doña Lucilia fue una gran madre con su hijo. Gracias por mandar esta historia tan bella.

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