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Atitudes das
pessoas perante a Primeira Guerra Mundial
Pouco
tempo depois desses primeiros fatos da minha infância terem se passado,
arrebentou a Guerra Mundial. Entendi mais ou menos o que era essa guerra, mas
tinha a noção da distância enorme que havia entre o Brasil e a Europa.
Portanto, era impossível que a guerra chegasse até aqui; enquanto a Europa
passava por todo aquele sofrimento, no Brasil havia a boa vida tranquila e
folgada; o Brasil não entraria em guerra, e por isso as pessoas aqui gostavam de
celebrar a tranquilidade brasileira. Não só apreciavam isso os brasileiros, mas
os estrangeiros oriundos de países que estavam na conflagração, mas que tinham
vindo para o Brasil antes da guerra. Eles tinham pais, irmãos, filhos, netos,
metidos na conflagração. Isso lhes interessava, mas, sobretudo, o que eles
possuíam era um bem-estar de pessoalmente não participar da guerra.
Quando
chegava a tardinha, era frequente verem-se nas ruas da São Paulinho rodas
formadas na calçada por famílias de imigrantes. As donas de casa faziam pratos
do tempo em que viviam em seus países de origem, os homens conversavam, davam
risadas, as crianças brincavam, todos se preparando para comer e depois comendo
valorosamente, comentando como era bom eles não estarem na guerra.
Comecei
a observar isso e percebi que havia duas atitudes perante a conflagração: uma,
a daqueles a quem era, sobretudo, agradável estar longe dela; a outra, a dos
que admiravam a guerra, compreendiam sua beleza. Estes últimos não podiam ir à
guerra porque tinham compromissos aqui no Brasil para manter a família; se eles
fossem poderiam morrer, e a família ficava abandonada. Mas acompanhavam os
jornais com o espírito de lutadores: seu país avançou ou recuou, os aliados
deles avançaram ou recuaram, os meios de destruição se acentuaram. Aparece o
aeroplano, então o grande perigo são os voos. Depois surgem os gases
asfixiantes, os bombardeios em massa das grandes cidades. E no fim, coisa
talvez pior do que tudo, as epidemias que contagiavam às vezes um país inteiro
e que constituíam uma tristeza, uma coisa horrível.
Continua
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