Conclusão do post anterior
Atrozes
ferimentos causados pela conflagração
Eu
tive uma governanta austríaca que era solteira e ofereceu-se para, durante o
dia, trabalhar num hospital de feridos de guerra.
Ela
disse que os ferimentos eram atrozes. Por exemplo, um jovem que tinha ido para
combater e voltou com um ferimento que de si não era mortal, mas ele não podia
falar porque um projétil lhe arrancara o queixo. Quando ele precisava de alguma
coisa, tocava uma sineta e escrevia, com letra trêmula de alguém que está
gravemente doente, aquilo de que precisava. Às vezes não conseguia escrever por
inteiro, deixava cair sobre a cama a caneta e o papel, e ficava esperando um momento
em que um pouquinho mais de força lhe permitisse fazer o pedido.
Minha
governanta contava que, pelo regulamento do hospital, as enfermeiras tinham
horários determinados para descansar, porque se elas ficassem doentes também, o
hospital tornava-se inoperante. As enfermeiras precisavam ter uma defesa contra
a epidemia, então o hospital mandava-as repousar. Mas quando minha governanta
estava descansando e se lembrava de que talvez o homem sem queixo precisasse de
alguma coisa, ela se levantava às escondidas e ia verificar se ele queria algo.
Quem censuraria uma atitude como essa? Só poderia aplaudir. Mas que condições
de vida, que horrores, que monstruosidades!
Reflexão sobre o
magnífico tema da dor
Tudo
isso representava o sofrimento, e eu notava que Dona Lucilia tinha em face
desses fatos uma atitude muito mais pensativa e mais séria do que as outras
pessoas. Estas comentavam, como ela, as notícias que os jornais publicavam, por
vezes com sensacionalismo que impressionava muito o público, é natural.
Por
exemplo, acabava o almoço de domingo, todos se espalhavam pela sala de jantar e
começavam a conversar sobre esses assuntos. Lembro-me até hoje de que quando um
velho relógio de parede, com um bonito som, marcava duas horas da tarde, havia
sempre um espírito mais leviano e superficial que dizia com uma voz que
dominava a todos: “Meus caros, agora chegou a vez de nos divertirmos. Você vai
para onde? E você? Vamos fazer os nossos programas.” Então, uns iam passear nos
arredores da cidade, outros faziam visitas, enfim, essa vida leve dos domingos.
Eu
percebia que Dona Lucilia acompanhava, mas que o espírito dela ia para a
compaixão por aqueles que tinham sofrido, fazia oração por eles para Nossa
Senhora aliviar ou até para evitar esse sofrimento. Mas, sobretudo, fazia a
reflexão sobre o grande, o nobre, o magnífico tema da dor. E dentro deste tema,
outro ainda mais bonito: o heroísmo, a coragem.
Isto
ia formando a alma de um menino...
Plinio
Corrêa de Oliveira – Extraído de conferência de 26/7/1995
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