Continuação do post anterior
Inteligência comum, mas vivificada pela sapiencialidade
Eu notava isso em
todas as circunstâncias da vida: nas consequências que ela tirava dos fatos,
nas aplicações, na severidade dela como mãe, numa série de coisas assim, tudo
levado por ela até o fim. Este era o ponto de partida do relacionamento de alma
entre ela e eu, que só cessou nesta Terra com a sua morte.
Alguém poderia
perguntar sobre o papel da inteligência dentro disso, e se não se tratava de
uma altíssima qualidade intelectual. Suponho ser algo mais ligado à virtude da
sabedoria, a qual não é privativa dos inteligentes, mas é uma inteligência dada
pela graça, aos inteligentes e aos não inteligentes, desde que a Providência
queira beneficiá-los.
Mamãe tinha uma
inteligência comum, vivificada por essa posição sapiencial de muita seriedade
diante de todas as coisas.
A visão da
totalidade que ela possuía do espírito da Igreja Católica e de Nosso Senhor
Jesus Cristo, tanto quanto eu podia perceber no contato com ela, apresentava-se
no culto ao Sagrado Coração de Jesus.
Imagens do Sagrado Coração de Jesus: transbordantes de afeto, mas
nunca sorrindo
Via-se que ela
reconhecia, admirava, adorava no Sagrado Coração de Jesus exatamente o que se
encontra nessa devoção, tal como era apresentada no século XIX, durante o qual
Dona Lucilia formou seu espírito.
Naquela época, o
Sagrado Coração de Jesus era apresentado sempre como profundamente bondoso,
misericordioso, disposto a perdoar, mas profundamente sério. Então, algumas
atitudes d’Ele perante as almas eram simbolizadas pelas imagens transbordantes
de afeto, mas nunca sorrindo, revelando sempre um fundo de tristeza, de quem
media até a profundidade a maldade dos homens, e sofria por causa disso inteiramente.
Essa postura
interior era representada fisicamente pelo coração cercado de uma coroa de
espinhos e com uma laceração decorrente da lança de Longinus, que simbolizavam
essa tristeza afetuosa e paciente do Sagrado Coração de Jesus, de uma profundidade
não mensurável, infinita, mas ao mesmo tempo sem irritação, sem vindita. Uma
bondade a perder de vista, mas que, diante das ofensas feitas, sabia serem
ofensas, tomava-as em todo o seu valor e sofria por elas em toda a medida que
era próprio a elas fazê-Lo padecer. Portanto, tudo quanto Ele sofreu na Paixão
por causa dos nossos pecados, estava simbolizado nessas imagens muito
adequadamente.
Isso supõe uma
avaliação profundamente séria do que se passa na alma de cada homem, da
gravidade moral de todo o pecado, e uma disposição prévia a ver no homem um
pecador a quem se perdoa, muito mais do que um filho dileto que dá alegria.
De maneira que as
imagens do Sagrado Coração de Jesus da boa escola não O apresentam gaudioso,
embora o Coração d’Ele fosse cheio de gáudios; por exemplo, quando Ele via
Nossa Senhora, ou cogitava sobre Ela, o gáudio d’Ele não tinha limites.
Continua
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