Ao logo dos tempos, a Revolução
vai modificando não só as instituições, mas os modos de ser do homem e até sua fisionomia.
Plinio Corrêa de Oliveira comenta que Dona Lucilia nunca se deixou influenciar pela
Revolução, mas sempre manteve inalterável seu semblante, o qual indicava a
elevação de suas cogitações.
Sempre notei em mamãe
uma característica — até certo ponto pessoal dela, e até certo ponto própria à
época da qual ela provinha — que se evidenciava no contraste entre o modo de
ser das pessoas antigas, e aquele considerado como ideal a partir dos anos
vinte, depois da Primeira Guerra Mundial, quando a influência moderna começou a
se generalizar pela América do Sul, especialmente pelo Brasil.
Duas formas de fisionomias
As pessoas antigas
tinham uma concepção da vida pela qual esta não consistia numa algazarra feita
para se viver alegre o tempo inteiro. A fisionomia oficial do homem não era
alegre, mas sim pensativa.
Pensativa, não segundo o
conceito contemporâneo. Porque hoje em dia pensar significa preocupar-se em
resolver algum problema prático, que foi impossível solucionar antes e que,
deixado para depois, ocupa-nos a atenção. E a fisionomia do indivíduo
preocupado com o problema prático — pedregoso, árido e sem graça — não é
propriamente a do homem pensativo. O pensamento, no sentido da reflexão, vai às
mais altas paragens do espírito.
E, normalmente, quando
uma pessoa responsável do século XIX se fazia fotografar ou pintar, ainda que
não estivesse preocupada, apresentava-se com a fisionomia que possuía nas horas
de reflexão.
Quando começa a
influência nova, no Brasil, ocorre o contrário. A fisionomia não é de quem
alcançou êxito, mas de quem está no gozo da vida que o êxito poderia dar; então
uma cara alegre, necessariamente saudável e triunfante. Mas não é triunfo de
batalha, mas de alguém que arrancou umas pepitas de ouro do chão e as está
vendo, numa algazarra.
Eu notava muito a
diferença entre essas fisionomias, que iam entrando para a moda — e até via
pessoas mudarem de expressão para se ajustarem à moda —, e o semblante de mamãe,
o qual ficou sempre o mesmo até sua morte. De 1920 para 1968, meio século, as
transformações foram enormes. Ela, contudo, absolutamente não mudou. E a fisionomia
que está no Quadrinho era a habitual dela. Aliás, é por onde o Quadrinho me
toca.
Continua...
Continua...
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