Continuação do post anterior.
Lumen fidei
Nessa fisionomia
transparece o que há de ligeira e discretamente enevoado na reflexão, porque o
homem quando reflete não tem a expressão de quem exclama: “Heureca! Eu
descobri!” Ele está procurando e, por isso, tem o semblante da indagação.
Mas há duas formas de
inquirição: uma a de quem tem Fé e outra a de quem não a possui. A indagação de
quem não tem Fé parte da incerteza e procura a certeza. A pessoa que possui Fé
não tem insegurança e, quando indaga, está certa de que encontrará a verdade.
Então, em Dona Lucilia
havia a reflexão, a meditação aplicada, mas tranquila e suave, objetiva, porém
elevada, sem ser terra a terra. Havia no fundo de seu olhar e de toda a sua
pessoa o lumen da Fé, uma certeza: “No fundo, eu confio, tudo se arranja, dará
certo, esperemos! Sei que há um corredor longo e obscuro para atravessar, mas a
luz de onde eu venho e a luz para onde vou, o lumen fidei, me acompanha nessa
trajetória; caminharei serena!”
Isso se notava em mil
situações, de mil maneiras. Praticamente, é o que eu sentia no convívio com
ela, e era um dos deleites para mim. Eu vinha da batalha, da luta, e encontrava
sempre aquela mesma posição, aquela acolhida deleitável. E no 1º andar2
parece-me encontrar ainda a mesma coisa, julgo sentir um imponderável.
Já tive oportunidade de
dizer que, para mim, o 1º andar não é minha casa. Juridicamente é minha
residência; mas moralmente é a casa dela. Se pudesse, eu mandava atender ao
telefone dizendo: “Casa de Dona Lucilia Corrêa de Oliveira.” Esse imponderável
eu julgo encontrar em todas as salas da residência.
Ela era uma dona de
casa, não uma pessoa de grandes lances, grandes ditos, nada disso. A ação de
sua presença valia muito mais do que as coisas que ela dizia ou escrevia. Nas
cartas dela há uma ação de presença que vale mais do que o sentido literal das
palavras. Dir-se-ia, ao menos para meus ouvidos de filho, que aquelas cartas
têm uma espécie de acompanhamento subsônico, musical; é quase seu timbre de
voz, sua amenidade, dizendo as coisas correntes, no convívio diário.
Não era uma pessoa, por
exemplo, de exprimir um pensamento para alguém tomar nota. Ela era tão
despretensiosa que nem passava pela sua mente ser focalizada dessa maneira.
Continua.
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