Conclusão dos posts anteriores
Amor à hierarquia
Ela velava muito pela hierarquia, e era
muito respeitosa com quem possuísse categoria superior à dela. Por exemplo,
respeitava muito a Família Imperial, tratando-a com toda consideração, com toda
atenção, como se a monarquia estivesse vigente no Brasil.
Respeitava muito o
episcopado, o que se notava no modo atencioso de ela tratar dois bispos que
frequentavam minha casa.
Para Dona Lucilia
não era tão importante ocupar esse ou aquele lugar na escala hierárquica. Ela
amava propriamente a hierarquia, e o que lhe importava era que esta existisse.
Isso me parece muito direito.
Embora totalmente
sem amor-próprio, mamãe era uma pessoa de uma grande dignidade, e possuía muito
senhorio. Vê-se no Quadrinho1 que Dona Lucilia sabia quem ela era. Quer dizer,
não era nem um pouco uma senhora boba. Porém, possuía uma dignidade tão
materna, que ela honrava aquele que se aproximava dela, não o rebaixava; ela
sabia tratar incomparavelmente bem.
Aconteceu-me de
vê-la fazer o que nenhuma patroa, no tempo dela, fazia: parada na rua,
conversando com uma antiga criada de quarto que estava doente, a qual tinha
saído de nossa casa por necessitar tratar-se de sua enfermidade. Mamãe
encontrou-se com a antiga criada na rua, e parou para conversar com ela. Os
automóveis e as pessoas conhecidas passando, e ela conversando com tanta
distinção que a criada estava encantada. Não eram duas amigas, mas a patroa
católica que ama a criada católica. Era uma coisa diferente.
Assim, em tudo ela punha medidas, mas sabia tornar essas medidas
amáveis, agradáveis.
Por vezes, há
pessoas que têm amor-próprio e ficam amarguradas: “Não me reconhecem, não me
amam, vou mostrar quem eu sou!” E ela amansava, diluía, derramava um unguento
em cima do amor-próprio: “Eu estou tão aberta a ver, e tão disposta a
reconhecer com alegria o que você é… venha falar comigo!”
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