segunda-feira, 9 de março de 2015

Preparando o filho para vida ( cont )

Continuação do post anterior
Modo atencioso de tratar acérrimo inimigo
Mamãe narrava o caso de um senhor de uma boa família de São Paulo, que morava em Pirassununga, onde também residia o meu avô.
Esse homem tinha enorme inveja de Dr. Antônio. Era um advogado medíocre, pouco inteligente, e  vivia intentando golpes judiciários  contra meu avô, o qual com um peteleco respondia aos ataques e os  desfazia.
Certa  ocasião  ele  recebeu  uma  carta desse indivíduo nestes termos:  “Totó, eu estou reduzido ao último  ponto da miséria, gastei todo o meu  dinheiro,  estou  tuberculoso  e  sendo acusado de um crime. Você, de  quem sou inimigo e tem tanta queixa contra mim, é a única pessoa com  a qual posso contar. Você não poderia vir agora à noite, nesse carro que  mandei à sua casa, falar comigo para  eu ter um pouco de sossego?”
Era  uma  das  noites  gélidas  de  São  Paulo,  meu  avô  estava  com  uma espécie de bronquite, mas não  teve  dúvida:  agasalhou-se,  entrou  no carro e foi falar com o homem.  Este  se  encontrava  deitado  sobre um colchão posto diretamente no  solo, não tinha cama, e o travesseiro encostado na parede. E a pobre  da mulher dele — era uma boa senhora — exercia o papel de enfermeira,  tratando-o  de  uma  doença  contagiosa, a tuberculose.
Meu  avô  cumprimentou-o  afavelmente, e logo foi de carro comprar, com seu próprio dinheiro, os  remédios necessários. Depois combinaram de ir, no dia seguinte, para  Pirassununga. E Dr. Antônio mandou  para  aquela  cidade  um  aviso:  “O Dr. Fulano vai amanhã comigo  para ser julgado em Pirassununga,  e eu não quero que haja qualquer  desacato à pessoa dele. Vou a pé,  de braços dados com ele, até a cadeia onde deve ser recolhido por ordem do juiz. Até o momento de entrar na prisão, ele é meu hóspede, e  qualquer pessoa que diga uma palavra contra ele vai encontrar a minha oposição,  porque  sou  o  guardião e o depositário  de sua honra.”
E,  na  cidadezinha  do  interior,  todo  o  mundo  tinha  ido  ver  o  homem  descer  do  trem,  acompanhado  pelos  policiais.  Meu avô deu-lhe o braço e ambos atravessaram  a multidão; por respeito  ao Dr. Antônio, ninguém  disse nada. A polícia, que  ia  junto  para  impedir  a  fuga  do  homem,  levou-o até a cadeia. No dia seguinte, todos queriam saber quem era o advogado do prisioneiro; era uma curiosidade geral porque seu nome não tinha sido revelado. E na hora aprazada, quando entrou o advogado do  réu,  ficaram  surpresos:  era  o  meu  avô, que pleiteou o caso, obteve a libertação do homem, o qual ainda viveu algum tempo.
Mesmo  assim,  continuou  tendo  ódio do meu avô, dizendo que este  o tratara bem, mas que ele teria feito  melhor por Dr. Antônio.
Formando o filho
Minha mãe dizia-me: “Assim você deverá tratar seus inimigos. Não  tenha  ilusão,  por  melhor  que  você seja com os outros, no meio dos  seus amigos haverá serpentes. E essas serpentes vão mordê-lo; não seja bobo, preste atenção, desconfie e  saiba defender-se. Mas seja bondoso  e saiba perdoar. Não mate as serpentes, ajude-as a viver. Assim você pode conduzir sua vida abençoado por  Deus.”
Dona Lucilia dava essas lições com tanta suavidade, seriedade e demonstrações de tanta caridade, que alguma  coisa  acabou  ficando  neste filho dela. 

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 9/10/1993

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