Continuação do post anterior
Modo atencioso de tratar acérrimo inimigo
Mamãe narrava o caso
de um senhor de uma boa família de São Paulo, que morava em Pirassununga, onde
também residia o meu avô.
Esse homem tinha
enorme inveja de Dr. Antônio. Era um advogado medíocre, pouco inteligente,
e vivia intentando golpes judiciários contra meu avô, o qual com um peteleco
respondia aos ataques e os desfazia.
Certa ocasião
ele recebeu uma
carta desse indivíduo nestes termos:
“Totó, eu estou reduzido ao último
ponto da miséria, gastei todo o meu
dinheiro, estou tuberculoso
e sendo acusado de um crime.
Você, de quem sou inimigo e tem tanta
queixa contra mim, é a única pessoa com
a qual posso contar. Você não poderia vir agora à noite, nesse carro
que mandei à sua casa, falar comigo
para eu ter um pouco de sossego?”
Era uma
das noites gélidas
de São Paulo,
meu avô estava
com uma espécie de bronquite, mas
não teve
dúvida: agasalhou-se, entrou
no carro e foi falar com o homem.
Este se encontrava
deitado sobre um colchão posto
diretamente no solo, não tinha cama, e o
travesseiro encostado na parede. E a pobre
da mulher dele — era uma boa senhora — exercia o papel de enfermeira, tratando-o
de uma doença
contagiosa, a tuberculose.
Meu avô
cumprimentou-o afavelmente, e
logo foi de carro comprar, com seu próprio dinheiro, os remédios necessários. Depois combinaram de
ir, no dia seguinte, para Pirassununga.
E Dr. Antônio mandou para aquela
cidade um aviso:
“O Dr. Fulano vai amanhã comigo
para ser julgado em Pirassununga,
e eu não quero que haja qualquer
desacato à pessoa dele. Vou a pé,
de braços dados com ele, até a cadeia onde deve ser recolhido por ordem
do juiz. Até o momento de entrar na prisão, ele é meu hóspede, e qualquer pessoa que diga uma palavra contra
ele vai encontrar a minha oposição,
porque sou o
guardião e o depositário de sua
honra.”
E, na
cidadezinha do interior,
todo o mundo
tinha ido ver
o homem descer
do trem, acompanhado
pelos policiais. Meu avô deu-lhe o braço e ambos atravessaram a multidão; por respeito ao Dr. Antônio, ninguém disse nada. A polícia, que ia
junto para impedir
a fuga do
homem, levou-o até a cadeia. No
dia seguinte, todos queriam saber quem era o advogado do prisioneiro; era uma
curiosidade geral porque seu nome não tinha sido revelado. E na hora aprazada,
quando entrou o advogado do réu, ficaram
surpresos: era o
meu avô, que pleiteou o caso,
obteve a libertação do homem, o qual ainda viveu algum tempo.
Mesmo assim,
continuou tendo ódio do meu avô, dizendo que este o tratara bem, mas que ele teria feito melhor por Dr. Antônio.
Formando o filho
Minha mãe dizia-me:
“Assim você deverá tratar seus inimigos. Não
tenha ilusão, por
melhor que você seja com os outros, no meio dos seus amigos haverá serpentes. E essas
serpentes vão mordê-lo; não seja bobo, preste atenção, desconfie e saiba defender-se. Mas seja bondoso e saiba perdoar. Não mate as serpentes,
ajude-as a viver. Assim você pode conduzir sua vida abençoado por Deus.”
Dona Lucilia dava
essas lições com tanta suavidade, seriedade e demonstrações de tanta caridade,
que alguma coisa acabou
ficando neste filho dela.
Plinio Correa de
Oliveira – Extraído de conferência de 9/10/1993
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