quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Reflexão tranquila, suave e elevada III

Continuação do post anterior.
Morte de Dona Gabriela
Dona Gabriela - mãe de Dona Lucilia
Dona Lucilia foi uma filha muito boa. Tinha um grande entusiasmo pelo pai, e queria muito bem e admirava a sua mãe. Quando o pai dela morreu, eu tinha um ano de idade, mas por ocasião do falecimento de sua mãe, já era homem feito.
Quando eu soube da morte de minha avó, minha mãe já se encontrava em seu próprio quarto. Dirigi-me logo para lá para ver como ela estava e prestar alguma assistência, acariciá-la, enfim, consolá-la. Porque minha preocupação era com ela, evidentemente. Imaginei encontrá-la convulsionada.
Entrei no quarto e a encontrei deitada, inteiramente vestida, sobre a cama, numa atitude de distensão completa, sem verter uma lágrima nem dizer uma palavra.
Pensei que me aproximando ela tivesse alguma reação, e dissesse, por exemplo: “Filhão, como estou triste!”, ou qualquer coisa do gênero. Absolutamente nada. Ela percebeu bem que eu estava entrando, mas ao contrário do costume dela, não fez o menor movimento, nem para me acolher, nem para me dizer algo. Até me assustei um pouco, chegando a me perguntar se ela estaria desmaiada, mas vi logo que não.
Notei que ela estava, não numa atitude de distensão, mas completamente largada, devido à dor pelo que acabava de lhe acontecer. E observei que se encontrava inteiramente lúcida, sem frenesi, sem nervosismos, sem desespero, e apenas pensando no fato.
Quer dizer, a morte foi nos dada como um castigo. Todos sabem que o homem no Paraíso terrestre, por um dom preternatural — por natureza, o homem é mortal —, era imortal. Esse dom foi suspenso como castigo pelo pecado. E a morte é uma lei tão sagrada e tão alta que, segundo uma corrente de teólogos, nem Nossa Senhora quis Se excetuar dessa lei. Seria ultrarrazoável, uma vez que Ela era concebida sem pecado original. A Mãe de Deus desejou falecer e sua morte é chamada “dormição da Santíssima Virgem”; ou seja, foi uma morte tão leve que é comparada a um sono. Mas é um modo de dizer, porque a morte é a morte… A alma separou-se do corpo, e houve o estraçalhamento que sabemos.

Eu vi que mamãe considerava isso inteiramente de frente, e o dolorido para ela era o estraçalhamento de sua mãe. Dona Lucilia estava medindo esse acontecimento com a calma de uma pessoa reflexiva, que presta atenção no fato e pensando: “Ela foi objeto desta dor, e agora sua alma está separada do corpo até a ressurreição dos mortos.”
Continua

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