terça-feira, 23 de agosto de 2016

Dignidade e senhorio III

Conclusão dos posts anteriores

Amor à hierarquia

Ela velava muito pela hierarquia, e era muito respeitosa com quem possuísse categoria superior à dela. Por exemplo, respeitava muito a Família Imperial, tratando-a com toda consideração, com toda atenção, como se a monarquia estivesse vigente no Brasil.
         Respeitava muito o episcopado, o que se notava no modo atencioso de ela tratar dois bispos que frequentavam minha casa.
         Para Dona Lucilia não era tão importante ocupar esse ou aquele lugar na escala hierárquica. Ela amava propriamente a hierarquia, e o que lhe importava era que esta existisse. Isso me parece muito direito.
         Embora totalmente sem amor-próprio, mamãe era uma pessoa de uma grande dignidade, e possuía muito senhorio. Vê-se no Quadrinho1 que Dona Lucilia sabia quem ela era. Quer dizer, não era nem um pouco uma senhora boba. Porém, possuía uma dignidade tão materna, que ela honrava aquele que se aproximava dela, não o rebaixava; ela sabia tratar incomparavelmente bem.
         Aconteceu-me de vê-la fazer o que nenhuma patroa, no tempo dela, fazia: parada na rua, conversando com uma antiga criada de quarto que estava doente, a qual tinha saído de nossa casa por necessitar tratar-se de sua enfermidade. Mamãe encontrou-se com a antiga criada na rua, e parou para conversar com ela. Os automóveis e as pessoas conhecidas passando, e ela conversando com tanta distinção que a criada estava encantada. Não eram duas amigas, mas a patroa católica que ama a criada católica. Era uma coisa diferente.
            Assim, em tudo ela punha medidas, mas sabia tornar essas medidas amáveis, agradáveis.
         Por vezes, há pessoas que têm amor-próprio e ficam amarguradas: “Não me reconhecem, não me amam, vou mostrar quem eu sou!” E ela amansava, diluía, derramava um unguento em cima do amor-próprio: “Eu estou tão aberta a ver, e tão disposta a reconhecer com alegria o que você é… venha falar comigo!”

 Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferências de 2/8/1982 e 21/1/1983 

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