Abnegação e amabilidade
Isso era assim em todos
ou quase todos os domínios da existência, formando um tipo de relacionamento
que tem como pressuposto uma mútua abnegação, uma capacidade de dar-se muito
grande. Essa capacidade de dar-se já é uma coisa que nas gerações posteriores à
minha foi mudando, e hoje em dia quase não existe, simplesmente.
A abnegação tornou-se,
hoje, uma coisa tão inverossímil, que a pessoa custa a se convencer de que está
diante de um sentimento verdadeiro e não de um gesto de mera amabilidade. Sendo
que a palavra “amabilidade” também perdeu um tanto de seu verdadeiro sentido,
daquele tempo para cá. Amabilidade vem de “amar”. A pessoa amável é a pessoa
apropriada para ser amada, que pode ser amada. É o sentido evidente da palavra.
Assim, a amabilidade é a
expressão de um estado interior, de uma disposição nossa para com os outros,
que os leva a quererem ter a mesma disposição em relação a nós, constituindo um
vínculo de amizade.
Para quem levou a vida
na atmosfera das gerações mais recentes, é dificílimo ter esse pressuposto,
porque quase não teve experiência dele. Por isso é levado a dizer: “Será que é
mesmo? Não será uma mera fórmula de gentileza? Eu não chego a me convencer de
que isto seja uma realidade.” Donde resulta uma atitude indecisa diante da
posição amável que se toma conosco.
Compreendo muito bem
essa dificuldade. E, em geral, quando vejo alguém com uma certa dificuldade de
ter a vivência da minha boa disposição para com ele, a minha atitude não deve
ser de falar sobre isso, mas de dar a impressão de que não percebi e que, na
minha espontaneidade, continuo daquele jeito. Se ele quiser tomar isso assim,
tome; se não, à força de paciência e insistência minha, acabará aceitando.
Continua
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