quinta-feira, 2 de junho de 2016

Martírio de alma II

Continuação do post anterior
As potencialidades de Dona Lucilia eram como pétalas de uma flor
O próprio da virtude não é só que cada ação interna ou externa do homem esteja de acordo com as regras — o que é muito bom —, porém é mais. É preciso que, no ponto de convergência de todas as virtudes, a pessoa, conforme a circunstância, com facilidade seja sagaz, doce, amena, corajosa, prudente, etc. Com toda a facilidade ela se move na “rosa dos ventos” dos fatos. Aí está, a bem dizer, o ponto central, o núcleo da virtude.
E nesse ponto, para um bom conhecedor, a alma é mais aprazível de ser vista, porque se verifica nela todas as possibilidades de bem esboçadas, e como que se interpenetrando uma na outra. Percebe-se bem a harmonia de uma com a outra; e essa harmonia — como todas as harmonias — é mais bela do que cada ponto isolado.
Ora, o que me chamava muito a atenção em mamãe é que, várias vezes, tive ocasião de vê-la praticar atos de virtude, a meu juízo, insignes. Porém, mais do que isso, é o fato de nunca tê-la encontrado fora desse seu “ponto fecundo”.
Via-se que ela até gostaria de agir, de fazer, mas os acontecimentos nada lhe pediam, e ela morava numa espécie de redoma. Mas mantinha todas essas suas potencialidades sem efervescência, nem a agonia da inação, ou a angústia do inútil, postas mais ou menos como estão as pétalas numa flor: não se movem, não se acotovelam, são irmãs e ornam a corola.

E era-me agradável, aprazível em alto grau, ir mudando os temas e notando, de acordo com o que era tratado, como ela ia entrando nos vários assuntos, sem nunca surgir uma contradição, um arranhão, uma distonia, nada!
Continua

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