Dona Lucilia
praticava atos insignes de virtude; mais do que isso, em sua alma convergiam
todas as virtudes, as quais se manifestavam com toda a facilidade conforme as
circunstâncias. Entretanto, devido à sua fidelidade à Doutrina Católica e ao
seu modo de ser contrarrevolucionário, ela foi gradualmente incompreendida e
isolada, o que constituía um verdadeiro martírio de alma. Ouçamos os comentários de seu filho, Plinio Correa de Oliveira.
Quando ouço falar,
filialmente, da “ação angélica” de Dona Lucilia, pergunto-me em que sentido se
poderia comparar a ação dela à de um Anjo.
Ao se escutar uma música
de tão alta qualidade que parece não se ajustar às coisas desta Terra, pode-se
dizer que é uma música angélica. Assim podemos falar também de uma bondade
angélica, de uma coragem angélica. Todos os mais altos predicados do homem,
quando exercidos na linha da Doutrina Católica e do sobrenatural, podem ser
qualificados de angélicos a este título, por analogia.
Sagacidade e doçura
Com mamãe se verificava,
se concretizava, muito uma doutrina que a experiência da vida tem-me mostrado
ser verdadeira. Trata-se da doutrina que poderíamos chamar de “ponto fecundo”.
A alma pode e deve ter
várias qualidades. Por exemplo, todo mundo tem a possibilidade de possuir um
certo grau de sagacidade, mas esta participa da desconfiança. É-se sagaz a
partir do momento em que se desconfia que uma coisa é de um certo modo como não
aparenta e, através de pequenos indícios, acaba-se percebendo a realidade.
Então, um homem será um
detetive sagaz se desconfiar de um outro que, embora tenha ares de um cidadão
comum, é como não aparece, quer dizer, um criminoso. E o detetive, através de
pequenos indícios, descobre a verdade.
Um outro será um
minerador sagaz se, de uma pedra ou de um terreno que não parecem, à primeira
vista, ser auríferos ou conter brilhantes e esmeraldas, ele, entretanto,
através de pequenos vestígios, percebe que a realidade corresponde ao contrário
da aparência.
Assim, a sagacidade tem
qualquer coisa de penetrante e, como tal, algo de duro, porque o que é mole não
penetra; algo de aplicado, de atento, de consecutivo. O homem sagaz corre atrás
de uma hipótese como o caçador ao encalço da raposa. Há uma semelhança entre a
alegria do sagaz em perceber e acabar encontrando a verdade, e a do caçador
quando ele abateu a fera.
Porém, a sagacidade é
uma virtude de alma que se aplica tanto aos sentidos quanto à mera
inteligência. Uma pessoa será muito sagaz desde que ela, pensando, baseada em
vagos nexos entre teorias diversas, vislumbrou que esses nexos têm algo de
comum. Então ela faz essa caçada, por assim dizer aeronáutica, fora do mundo
concreto, do palpável. E isso também é sagacidade.
A sagacidade enquanto
tal é obviamente diversa da doçura. Esta é uma atitude que se toma à vista de
uma certeza que já se adquiriu: “Fulano merece o meu afeto.” Ou, em vista de
outro tipo de certeza: “Sicrano não merece a minha ternura, mas eu sei que
Nossa Senhora, do Céu, é doce para com ele, ainda que não mereça. Terei com ele
a doçura d’Ela.” Quer dizer, tenho certeza de que Maria Santíssima é meiga para
com ele, e isso não supõe mais a pesquisa.
Assim eu poderia
exemplificar a perder de vista.
Continua
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