sexta-feira, 27 de maio de 2016

Martírio de alma

Dona Lucilia praticava atos insignes de virtude; mais do que isso, em sua alma convergiam todas as virtudes, as quais se manifestavam com toda a facilidade conforme as circunstâncias. Entretanto, devido à sua fidelidade à Doutrina Católica e ao seu modo de ser contrarrevolucionário, ela foi gradualmente incompreendida e isolada, o que constituía um verdadeiro martírio de alma. Ouçamos os comentários de seu filho, Plinio Correa de Oliveira.
Quando ouço falar, filialmente, da “ação angélica” de Dona Lucilia, pergunto-me em que sentido se poderia comparar a ação dela à de um Anjo.
Ao se escutar uma música de tão alta qualidade que parece não se ajustar às coisas desta Terra, pode-se dizer que é uma música angélica. Assim podemos falar também de uma bondade angélica, de uma coragem angélica. Todos os mais altos predicados do homem, quando exercidos na linha da Doutrina Católica e do sobrenatural, podem ser qualificados de angélicos a este título, por analogia.
Sagacidade e doçura
Com mamãe se verificava, se concretizava, muito uma doutrina que a experiência da vida tem-me mostrado ser verdadeira. Trata-se da doutrina que poderíamos chamar de “ponto fecundo”.
A alma pode e deve ter várias qualidades. Por exemplo, todo mundo tem a possibilidade de possuir um certo grau de sagacidade, mas esta participa da desconfiança. É-se sagaz a partir do momento em que se desconfia que uma coisa é de um certo modo como não aparenta e, através de pequenos indícios, acaba-se percebendo a realidade.
Então, um homem será um detetive sagaz se desconfiar de um outro que, embora tenha ares de um cidadão comum, é como não aparece, quer dizer, um criminoso. E o detetive, através de pequenos indícios, descobre a verdade.
Um outro será um minerador sagaz se, de uma pedra ou de um terreno que não parecem, à primeira vista, ser auríferos ou conter brilhantes e esmeraldas, ele, entretanto, através de pequenos vestígios, percebe que a realidade corresponde ao contrário da aparência.
Assim, a sagacidade tem qualquer coisa de penetrante e, como tal, algo de duro, porque o que é mole não penetra; algo de aplicado, de atento, de consecutivo. O homem sagaz corre atrás de uma hipótese como o caçador ao encalço da raposa. Há uma semelhança entre a alegria do sagaz em perceber e acabar encontrando a verdade, e a do caçador quando ele abateu a fera.
Porém, a sagacidade é uma virtude de alma que se aplica tanto aos sentidos quanto à mera inteligência. Uma pessoa será muito sagaz desde que ela, pensando, baseada em vagos nexos entre teorias diversas, vislumbrou que esses nexos têm algo de comum. Então ela faz essa caçada, por assim dizer aeronáutica, fora do mundo concreto, do palpável. E isso também é sagacidade.
A sagacidade enquanto tal é obviamente diversa da doçura. Esta é uma atitude que se toma à vista de uma certeza que já se adquiriu: “Fulano merece o meu afeto.” Ou, em vista de outro tipo de certeza: “Sicrano não merece a minha ternura, mas eu sei que Nossa Senhora, do Céu, é doce para com ele, ainda que não mereça. Terei com ele a doçura d’Ela.” Quer dizer, tenho certeza de que Maria Santíssima é meiga para com ele, e isso não supõe mais a pesquisa.

Assim eu poderia exemplificar a perder de vista.
Continua

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