Continuação do post anterior
Na fotografia em que
olha para o calendário, ela toma essa posição para comprazer quem a está
fotografando, porque já estava com a catarata tão adiantada que via muito
pouco, a ponto de nem se preocupar mais em usar óculos.
Eu não quis sujeitá-la,
nessa idade, a uma operação de catarata, que para ela poderia ser traumática.
Julguei melhor deixar assim.
Nota-se, em meio a tudo
isso, muita segurança.
As flores lhe eram bem
mais visíveis.
Nessa foto em que olha
para as flores, percebe-se que Dona Lucilia está tomada por uma tristeza e até
um certo desacordo com algo. Parece lembrar-se de alguma coisa mal feita que a
desagradou, e ela ainda se encontra no choque de uma luta, a qual, como de
costume, era alguma contenda que não lhe saiu melhor, ou seja, a outra parte
não cedeu o que ela queria.
Essas fotografias me
consolam. Elas nunca teriam sido possíveis se não fosse aquela crise de
diabetes que eu sofri. Porque, estando em convalescença, as pessoas vinham
falar comigo e se conseguiu tirar essas fotos.
As pessoas não fazem
ideia de quanto eu a queria bem. Era uma miscelânea de muitíssimo afeto e de
muito respeito. O respeito que eu tinha a ela era enorme!
Imaginem um jato de luz
que bate de frente e inunda um objeto. Assim era o meu afeto por ela. Eu a queria
intensamente bem! Não havia em mim intensidade maior possível para querer uma
mera criatura humana, depois de Nossa Senhora. E eu lhe manifestava
torrencialmente; agradava-a, dizia-lhe coisas amáveis. O tempo inteiro em que
eu estava com mamãe, era como se fosse um sino tocando em louvor dela. Não
parava!
Meu pai, às vezes,
ficava meio enciumado. E então ele lhe dizia, imitando o sotaque português e em
tom de brincadeira: “Não te derretas!”
Mas eu percebia que
papai queria que eu dissesse alguma coisa para ele. Eu o tratava muito bem, com
muita atenção e cortesia. Mas a diferença era enorme! E uma vez ele disse:
“É... aqui em casa, papai é tratado muito bem, muito direito… Mas o entusiasmo
todo é por mamãe, não é?”
Dona Lucilia tinha um
cunhado que ela queria salvar a todo custo. E ela ouvia-me conversar assuntos
relativos à Fé com meus amigos, e prestava muita atenção em tudo quanto eu
dizia.
Às vezes ela perguntava:
“Por que vocês não dizem isto para Fulano?”
Ela julgava, talvez
equivocadamente, que ouvindo aquilo o cunhado seria “bombardeado” para o Céu.
Continua...
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