Continuação do post anterior
O grande mérito do
Quadrinho
Essas reflexões se
desdobram em comentários colaterais inúmeros. Por exemplo, eu vi mais de uma vez
pessoas, homens e senhoras, que, quando deitam todo empenho em fazer alguma
coisa, por exemplo, algo caligraficamente bem executado, dizem: “Agora não me
interrompa, porque vou fazer tal coisa.” E se eriçam para fora e se aplicam
para dentro.
Não é nem um pouco o
modo de mamãe se aplicar. Poder-se-ia interrompê-la em algo mais especial que
estivesse fazendo, que ela era absolutamente a mesma. Interrompia, ou então
dizia: “Sua mãe agora não pode atender, espere um pouquinho.” Mas um “espere um
pouquinho” que convidava a ficar ali perto, junto dela.
Quando ela queria fazer
as coisas bem feitas, não era com mania de perfeição, pois esta deixa a pessoa
como que sem fôlego, ofegante. Dona Lucilia sempre possuía fôlego, embora se
notasse que ela estava indo além de suas forças. Tudo isso tinha uma doçura que
não sei descrever; é só olhando para o Quadrinho2. A conversa mantida por ela
era a mais geral que se possa imaginar. Naquele tempo, as conversações numa família
muito movimentada abrangiam, misturados, fatos da casa, da família,
acontecimentos como, por exemplo, uma trombada que houve na rua, episódios
internacionais, tudo isso ao sabor dos temas e das associações das imagens. Os
assuntos vinham aflorando e, absolutamente, não era considerado desatencioso ou
grosseiro mudar de tema.
Assim, também Dona
Lucilia falava a respeito de tudo. Então, um gabinete que subiu na Inglaterra,
uma tia doente, uma conferência que houve na Academia Francesa de Letras, ou o
vagãozinho do teleférico do Pão de Açúcar que encrencou, tudo isso podia entrar
em qualquer ordem dentro da conversa.
Por outro lado, ela
possuía, interiormente, uma espécie de monólogo que está expresso no Quadrinho.
E o grande mérito do Quadrinho é exprimir esse monólogo. Quer dizer, uma longa
elucubração sobre mil e mil coisas.
Continua no próximo post
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