sábado, 6 de fevereiro de 2016

Harmonia e doçura (cont)

Continuação do post anterior
A presença de Dona Lucilia
É fácil compreender que o problema das saudades se põe em outros termos. Mas alguém me perguntará: “O senhor não teria gosto em vê-la?” Muito! Mas aqui está o paradoxo: o gosto em vê-la é enormíssimo, mas não importa em dizer que eu a sinta ausente, no sentido em que, habitualmente, se considera a ausência.
Há uma expressão francesa muito verdadeira: “Partir c’est mourir un peu” — partir é morrer um pouco. De fato, quando viajamos temos essa sensação de que morremos um pouco para o ambiente que deixamos.
Para ela, não. Partir não é morrer um pouco nem muito. Há uma presença que não sei como explicar, mas que decorre, para mim, preponderantemente dessa harmonia que habitava toda a pessoa dela; uma doçura que se fazia harmonia e uma harmonia que se fazia doçura: era uma coisa reversível. Nunca vi em Dona Lucilia um gesto, uma inflexão de voz, um tom, um modo de tratar alguém que não tivesse essa harmonia. Absolutamente nunca vi!
Harmonias harmônicas entre si
A palavra “harmonia” empobrece um pouco a realidade, pois ela era toda feita de harmonias harmônicas entre si; eram zonas intrinsecamente harmônicas da alma dela que, entre si, faziam uma única harmonia. Era uma coisa toda especial. E essa é a minha recordação.
Então, quando eu tinha de sair, e me lembrava de que mamãe estava em casa, ficava-me a impressão de que ela enchia a residência. Quando eu permanecia em casa e ela não estava, eu tinha a sensação de que a residência estava vazia.
Lembro-me de que, uma vez ou outra, depois de eu ser homem feito, ela fez viagens, ora para Santos, ora para Águas da Prata, para tratar da saúde, e que, por isso mesmo, exigiam em geral estadias longas. Eram, às vezes, vinte dias de ausência! Eu sentia a casa com um vazio fenomenal!
Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 2/8/1982


Um comentário:

  1. Tal era la grandeza de alma de Doña Lucilia que dejaba profundas huellas.

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