Continuação do post anterior
A presença de Dona
Lucilia
É fácil compreender que
o problema das saudades se põe em outros termos. Mas alguém me perguntará: “O
senhor não teria gosto em vê-la?” Muito! Mas aqui está o paradoxo: o gosto em
vê-la é enormíssimo, mas não importa em dizer que eu a sinta ausente, no sentido
em que, habitualmente, se considera a ausência.
Há uma expressão
francesa muito verdadeira: “Partir c’est mourir un peu” — partir é morrer um
pouco. De fato, quando viajamos temos essa sensação de que morremos um pouco
para o ambiente que deixamos.
Para ela, não. Partir
não é morrer um pouco nem muito. Há uma presença que não sei como explicar, mas
que decorre, para mim, preponderantemente dessa harmonia que habitava toda a
pessoa dela; uma doçura que se fazia harmonia e uma harmonia que se fazia doçura:
era uma coisa reversível. Nunca vi em Dona Lucilia um gesto, uma inflexão de
voz, um tom, um modo de tratar alguém que não tivesse essa harmonia.
Absolutamente nunca vi!
Harmonias harmônicas entre si
A palavra “harmonia”
empobrece um pouco a realidade, pois ela era toda feita de harmonias harmônicas
entre si; eram zonas intrinsecamente harmônicas da alma dela que, entre si,
faziam uma única harmonia. Era uma coisa toda especial. E essa é a minha
recordação.
Então, quando eu tinha
de sair, e me lembrava de que mamãe estava em casa, ficava-me a impressão de
que ela enchia a residência. Quando eu permanecia em casa e ela não estava, eu
tinha a sensação de que a residência estava vazia.
Lembro-me de que, uma
vez ou outra, depois de eu ser homem feito, ela fez viagens, ora para Santos,
ora para Águas da Prata, para tratar da saúde, e que, por isso mesmo, exigiam
em geral estadias longas. Eram, às vezes, vinte dias de ausência! Eu sentia a
casa com um vazio fenomenal!
Plinio
Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 2/8/1982
Tal era la grandeza de alma de Doña Lucilia que dejaba profundas huellas.
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