quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Amando a Deus acima do filho querido

Como o ouro, que manifesta sua pureza ao passar pelo fogo, também o entranhado amor materno de Dona Lucilia por Dr. Plinio, tantas vezes descrito nestas páginas, demonstrou sua candura e retidão, ao ser provado no “cadinho” do filho afetuoso.
Vejamos as recordações de seu filho.
As primeiras recordações que eu tenho de minha mãe, em pequeno, são das carícias que ela me fazia. É próprio a uma criança gostar de ser acariciada, sobretudo pela mãe.
Dona Lucilia possuía, como ninguém, o conhecimento do por onde eu me sentiria melhor acariciado e, portanto, como fazer para agradar-me plenamente, incutindo em mim um gosto muito grande pelas carícias dela.
Um ordenadíssimo rio de águas douradas
Mas havia qualquer coisa no afago de mamãe que, por mais que fosse envolvente, doce, tranquilizante e representasse um carinho no sentido mais meigo da palavra, eu sentia que aquilo era como um rio de águas prateadas ou douradas que corria canalizado. Não como esses rios que, de vez em quando, se extravasam para a direita ou para a esquerda. Era completamente retilíneo, ordenadíssimo.
E vendo em mim uma criança inocente, ela se encantava com a minha inocência. Mas se ela notasse em mim um defeito, imediatamente no espírito dela nascia uma restrição entristecida, não irritada no sentido de ter ficado com os nervos abalados. Aliás, jamais a vi assim na minha vida, e nunca me passou pela cabeça que ela tivesse semelhante irritação; nunca, em nenhuma situação!
Mas era uma censura entristecida, como quem dissesse: “Isto está mal feito, ele é meu filho e eu vou corrigi-lo, pois se não o fizer, tê-lo-ei menos virtuoso. E isso eu não quero, porque nele eu amo, principalmente, a virtude.” Esse era o elemento ordenativo do afeto dela.
Querer bem por amor a Deus
Eu sentia, com profunda comoção, esse mundo de comprazimento por parte de mamãe. Ora, quando nos encontramos diante do afeto, a forma do entusiasmo que se tem chama-se emoção. Portanto, ficava profundamente emocionado.
Mas, de outro lado, encantava-me com aquela ordenação que correspondia ao que eu tanto apreciava, ou seja, que ela me quisesse bem, não apenas com um amor quase meramente instintivo, por ser seu filho, e ainda que fosse um facínora, me amaria tanto quanto se eu fosse um homem bom. Isso não!
O instinto materno chega até esse ponto: “Ele é um facínora, mas apesar disso, eu o quero bem porque é meu filho.” Em certo sentido, com as devidas ressalvas, está bem. “Mas, querê-lo tanto quanto o quereria se ele fosse bom, não. Porque devo amá-lo, antes de tudo, porque ele ama a Deus. E se ele não ama a Deus, eu o quero porque ele pode vir a querer a Deus se eu rezar muito por ele. Porém, se ele tivesse rompido com Deus como uma alma condenada, então não o quereria bem.”
É o que explica que as mães, estando no Céu e tendo conhecimento de que seus filhos estão no Inferno, não se entristeçam. No Céu não pode entrar a tristeza, é impossível. Mas como, logicamente, uma mãe não se entristece? Ela viu que aquele filho rompeu irremediavelmente com Deus, e que vai passar a eternidade blasfemando contra Ele; então, ela rompe com o filho, porque ela ama mais a Deus do que ao filho.
Ora, essa ordem eu sentia no fundo da personalidade dela, na franqueza e no espírito analítico de seu olhar. Eu me sentia examinado, analisado por ela, com afeto — não tinha nada de policialesco — mas com solicitude maternal.

Continua no próximo post.

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