segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Amando a Deus acima do filho querido ( cont )

”Você é sempre o mesmo!”
Já tive ocasião de contar que, voltando de minha primeira viagem à Europa, ela me recebeu no hall de casa, com um demorado abraço. Depois, afastou-se um pouco de mim e me olhou bem no fundo dos olhos. Em seguida, abraçou-me e beijou-me novamente, dizendo: “Você é sempre o mesmo!”
Eu era homem feito, porém uma viagem longa para um lugar brilhante como a Europa acarreta muitas possibilidades de elevação da alma, mas também de perdição. E ela conhecia o caso concreto de muita gente que fora à Europa e lá se perdera.
Era natural que ela, como minha mãe, tivesse uma preocupação: “Meu filho não vai ser tentado lá? Ele é feito de carne e osso, não está confirmado em graça, portanto, pode acontecer.” Posso imaginar quanto ela rezou! Juntamente com a alegria do encontro, quanto havia nela o desejo de saber que homem ela encontraria! Havia nisso uma retidão que estava de acordo com a lógica, e isso me encantava.
Passando pela prova...
Concluo lembrando um fato passado entre nós dois. Estávamos almoçando juntos, e ela servindo-se de um prato de que não gosto, mas ela apreciava muito: sopa de mandioca, na qual ela ainda mandava pôr agrião.
Evidentemente, embora eu considere horrível, seria capaz de ir comprar a mandioca e mandar a cozinheira fazer a sopa para ela, se fosse necessário. O que mamãe quisesse e não ofendesse a Deus, eu faria tanto quanto ela desejasse. E se há um prazer inocente, é tomar um caldo de mandioca com agrião.
Ela estava tomando a sopa com aquela calma característica, e os olhos postos nas árvores da Praça Buenos Aires, que ela gostava enormemente de ver e para as quais dá a janela da sala de jantar. Eu era já homem feito, e ela, uma senhora bem idosa.
Eu queria ver até que ponto mamãe, de fato, amava mais a Deus do que a mim. A certa altura da conversa, soltei a seguinte frase: “Mamãe, estive pensando o que eu faria se, de repente, a senhora ficasse protestante. Eu romperia as relações com a senhora. Daria dinheiro para mantê-la aqui nesta casa, para a senhora viver bem, mas não comigo, porque eu sairia da casa e viria ver a senhora umas duas ou três vezes por ano; fora disso não, porque para mim o relacionamento com a senhora estava encerrado.”
Olhei para ela para ver como receberia uma declaração como essa da parte de um filho muito respeitoso, muito afetuoso. Ela continuou a tomar sua sopa de mandioca com uma naturalidade como quem julgasse que eu estava dizendo uma coisa evidente.
A lógica confirmou o meu afeto e o meu entusiasmo.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 24/10/1987

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