Os gestos de Dona Lucilia, o timbre de sua voz, as palavras que
dizia, o modo de se dirigir a alguém etc., exprimiam a harmonia que habitava
toda a pessoa dela. Em tudo ela manifestava a doçura, não apenas de um coração
afetivo, compassivo e benévolo, mas que resultava dessa mesma harmonia.
Vejamos as palavras de seu filho, Plinio Correa de Oliveira
pronunciadas em conferência de 2/8/1982.
Sobre meu atual
relacionamento com mamãe, há uma coisa um pouco difícil de explicar. Em meu
quarto de uma das Sedes de nosso Movimento, tiveram a ideia filial e, ao mesmo tempo,
magnífica, de colocar a fotografia de corpo inteiro dela, tirada em Paris.
Naturalmente, não passo uma só vez pelo quarto sem olhar para a fotografia.
Habitualmente, quer quando esteja entrando ou saindo, quer quando fico lá
dentro, ao deitar-me, contemplo-a.
“Eu a tenho presente continuamente, com todos os pormenores”
Mas uma pessoa poderia
me perguntar: “O senhor sente saudades dela? Como são essas saudades?”
É uma pergunta cheia de
propósito, mas difícil de responder pelo seguinte: a minha união de alma com
Dona Lucilia era tão grande que, quando eu passo diante de sua fotografia,
tenho a impressão de ter estado com ela há cinco minutos.
A figura dela habita de
tal maneira em minha mente — a figura moral ainda mais do que a física, embora
esta seja expressão da figura moral, é claro —, que a distância, mesmo entre a
vida militante e a vida gloriosa no Céu, não é grande. E eu a tenho presente
continuamente, com todos os pormenores, todos os detalhes e tudo o mais. De maneira
que, ainda agora, passei em frente ao quadro e tive, uma vez mais, a impressão
preponderante que a fotografia me causa, e pensei:
“É curioso, mas eu tinha
esta impressão quando era pequenino e a via partir para um lugar, para outro,
em traje de gala. Como posso explicar que eu mantenha essa mesma impressão tão
viva hoje? Bem, deve ser a memória. Mas minha memória é tão pífia... não pode
ser.”
O tule que ela segura nas mãos parece ser uma corporificação da
harmonia
De fato, trata-se de uma
coisa diferente; é o mesmo sentimento, como se experimentasse vivamente aquela sensação
de doçura, não apenas de um coração afetivo, compassivo, benévolo; é uma doçura
que resultava da harmonia de tudo dentro dela.
Há por detrás disso uma
coisa, por assim dizer, filosófica. Ela era muito harmônica em tudo. Os gestos,
o timbre de voz, o que ela dizia, o modo de se dirigir a uma pessoa; em tudo isso
havia uma harmonia que, quem não a conheceu pessoalmente, não pode fazer uma
ideia de como tenha sido.
Essa impressão Dona
Lucilia me dava muito profundamente, e dessa harmonia decorria a doçura. Ela
colocava o interlocutor, se este quisesse, dentro dessa harmonia também; e o
envolvia e o penetrava de harmonia, que desarmava os maus humores, os
nervosismos e todas as outras coisas análogas, deixando a pessoa inteiramente à
vontade. Eu não saberia explicar bem como, mas era assim.
A meu ver, isso se exprime
naquela fotografia, no todo, é verdade, mas especialmente nos gestos dos braços
e no tule que ela conduz, o qual parece uma corporificação, uma condensação daquela
harmonia. Dir-se-ia que mamãe pegou-a no ar, franziu um pouco e saiu o tule… E
que ela andava e vivia nesse ritmo. Isso ficou de tal maneira presente na minha
recordação, que é como se tivesse estado com ela cinco minutos atrás. Isso mora
em mim!
Continua no próximo post.
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