Conclusão dos posts anteriores
Coerência e gratidão
Sentir-se assim amparado
constitui um estado de alma tão deleitável — sobretudo para quem vive no
desamparo —, que somos levados a nos perguntar quais são os empecilhos para
alguém aceitar e viver esse amparo.
O primeiro empecilho é a
superficialidade. A pessoa recebe esse apoio, mas depois não presta mais
atenção nele, não pensa e age como se ele não existisse. E a correspondência a
esse amparo supõe uma certa vida interior, por onde se tem o cuidado de se
lembrar do tipo de auxílio recebido e de torná-lo presente nas ocasiões
oportunas.
Supõe, portanto, um
esforço de atenção, de preservação contra a superficialidade, contra a
irreflexão em relação àquilo que eu quase ousaria chamar “a boa palavra
ouvida”.
Supõe também uma certa
forma de coerência, porque quem recebe um dom espiritual tão bom deve, por
coerência, procurar preservá-lo. É manifestamente incoerente receber uma coisa
excelente e tratá-la como insignificante. Seria como se uma pessoa pusesse uma
pedra preciosa na minha mão e eu tratasse a joia como um pedregulho; isso é
próprio de um doido! É preciso, portanto, ser coerente e, tendo apreciado tal
dom, tomar imediatamente a resolução: Eu o preservarei, dele sempre me
lembrarei!
Além disso, deve haver
uma verdadeira gratidão. Porque, se passando eu por um momento de aflição, uma
pessoa me tratou muito bem, para lhe ser grato devo lembrar-me sempre desse benefício.
É evidente! Não posso abordar essa pessoa como se o benefício não tivesse sido
feito. É uma outra forma de incoerência: a incoerência do ingrato.
E se quisermos preparar
nossas almas para receber novos favores, o natural é que nos mostremos gratos com
relação aos já recebidos. Porque, do contrário, não que a pessoa fique sentida
e não nos conceda novos dons, mas estes deformariam nossas almas. Se eu começo
a carregar e sobrecarregar de dons alguém que nunca agradece, estou deformando
a mentalidade dessa pessoa.
Contudo, essa forma de
amparo maternal, tornando-se frequente, deve dar, provavelmente, uma impressão
de contínua proteção da Providência, que soluciona a sensação de abandono
desconcertante e ininterrupto em que o mundo moderno atira os homens.
Plinio
Correa de Oliveira – Extraído de
conferência de
5/2/1983
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