domingo, 17 de janeiro de 2016

Amparo maternal III

Conclusão dos posts anteriores
Coerência e gratidão
Sentir-se assim amparado constitui um estado de alma tão deleitável — sobretudo para quem vive no desamparo —, que somos levados a nos perguntar quais são os empecilhos para alguém aceitar e viver esse amparo.
O primeiro empecilho é a superficialidade. A pessoa recebe esse apoio, mas depois não presta mais atenção nele, não pensa e age como se ele não existisse. E a correspondência a esse amparo supõe uma certa vida interior, por onde se tem o cuidado de se lembrar do tipo de auxílio recebido e de torná-lo presente nas ocasiões oportunas.
Supõe, portanto, um esforço de atenção, de preservação contra a superficialidade, contra a irreflexão em relação àquilo que eu quase ousaria chamar “a boa palavra ouvida”.
Supõe também uma certa forma de coerência, porque quem recebe um dom espiritual tão bom deve, por coerência, procurar preservá-lo. É manifestamente incoerente receber uma coisa excelente e tratá-la como insignificante. Seria como se uma pessoa pusesse uma pedra preciosa na minha mão e eu tratasse a joia como um pedregulho; isso é próprio de um doido! É preciso, portanto, ser coerente e, tendo apreciado tal dom, tomar imediatamente a resolução: Eu o preservarei, dele sempre me lembrarei!
Além disso, deve haver uma verdadeira gratidão. Porque, se passando eu por um momento de aflição, uma pessoa me tratou muito bem, para lhe ser grato devo lembrar-me sempre desse benefício. É evidente! Não posso abordar essa pessoa como se o benefício não tivesse sido feito. É uma outra forma de incoerência: a incoerência do ingrato.
E se quisermos preparar nossas almas para receber novos favores, o natural é que nos mostremos gratos com relação aos já recebidos. Porque, do contrário, não que a pessoa fique sentida e não nos conceda novos dons, mas estes deformariam nossas almas. Se eu começo a carregar e sobrecarregar de dons alguém que nunca agradece, estou deformando a mentalidade dessa pessoa.
Contudo, essa forma de amparo maternal, tornando-se frequente, deve dar, provavelmente, uma impressão de contínua proteção da Providência, que soluciona a sensação de abandono desconcertante e ininterrupto em que o mundo moderno atira os homens.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 5/2/1983

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