Continuação do post anterior
Bondade, ternura e meiguice
Convém aqui explicar a
diferença entre bondade, ternura e meiguice.
Bondade é genérico.
Meiguice e ternura são duas das muitas variantes da bondade. A meiguice é a
bondade enquanto afaga aquilo que é frágil, pequeno. E a ternura é a bondade
enquanto protege aquilo que é fraco.
Por exemplo, uma criança
acorda à noite com medo, e a mãe trata com meiguice esta sua fraqueza. Se o
filho tem uma doença grave, a mãe procura, com ternura, tornar essa enfermidade
suportável para a criança.
Faço um rápido
parêntese: aqui estão duas pequenas diferenças criteriológicas, que tornam
interessante a análise dos vários idiomas. A alguém não brasileiro poderia
parecer que, dizendo bondade, se diz ternura e meiguice. Porque, se bondade é
um gênero que abrange todas as espécies, não há necessidade de falar em ternura
e meiguice.
Ora, isso que em tese,
genericamente falando, teria sua razão, para a psicologia brasileira
absolutamente não é assim. Porque para o brasileiro vem primeiramente a noção
genérica de bondade. Porém, depois, especifica-se nele a ideia de que não é uma
bondade qualquer, mas uma bondade com suas características especiais. Então ele
acrescenta ternura e meiguice. E ainda que não saiba explicitar o sentido das
palavras como estou fazendo, o “i” da meiguice fá-lo sentir uma coisa, e o “u”
da ternura fá-lo sentir outra.
Vê-se nisso uma nota
característica de uma criteriologia especificamente brasileira. Creio mesmo que
no português de Portugal não se leva isso tão longe como no do Brasil, mas não
tenho certeza.
Aqui fechamos o
parêntese e vamos adiante em nossas reflexões.
Da falsa
autossuficiência ao desamparo. A relação entre o afeto materno e o paterno é
tal que o primeiro exprime certas bondades de Deus, que o segundo não exprime.
Deus é tão admirável, tão perfeito, que para fazer sentir toda a sua bondade,
dentro da família, serve-Se do pai e da mãe. Uma só criatura humana não seria
capaz de todas as formas de afeto necessárias para a educação adequada dos
filhos, e para lhes dar uma ideia completa da bondade divina.
Creio que as gerações
posteriores à minha foram muito favorecidas num ponto: na minha geração,
ensinava-se ao menino uma falsa autossuficiência que era, mais propriamente,
uma insolência em relação a todo mundo, baseada no apoio dado pela família. Com
base nesse apoio, a criança tomava uma atitude autossuficiente, e a plenitude
de seu desenvolvimento consistia em ter essa autossuficiência meio agressiva,
meio insolente.
Nas gerações seguintes,
em geral, tenho percebido que, dentro do anonimato do mundo moderno, as pessoas
se sentem meio desamparadas, entregues ao léu, sem apoio algum. Fico
especialmente comovido quando, em contato com um jovem de outro país, noto nos
primeiros olhares uma interrogação: “O senhor será mesmo o homem bom de quem me
falaram? E me dará a forma de amparo e apoio de que preciso?”
Ora, pela virtude e pela
condição de mãe, Dona Lucilia dava muito essa noção de amparo. O que eu recebi
de amparo dela, simplesmente não tenho palavras para exprimir! E as gerações
recentes são mais ávidas disso do que a minha.
Continua
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