terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Amparo maternal II

Continuação do post anterior
Bondade, ternura e meiguice
Convém aqui explicar a diferença entre bondade, ternura e meiguice.
Bondade é genérico. Meiguice e ternura são duas das muitas variantes da bondade. A meiguice é a bondade enquanto afaga aquilo que é frágil, pequeno. E a ternura é a bondade enquanto protege aquilo que é fraco.
Por exemplo, uma criança acorda à noite com medo, e a mãe trata com meiguice esta sua fraqueza. Se o filho tem uma doença grave, a mãe procura, com ternura, tornar essa enfermidade suportável para a criança.
Faço um rápido parêntese: aqui estão duas pequenas diferenças criteriológicas, que tornam interessante a análise dos vários idiomas. A alguém não brasileiro poderia parecer que, dizendo bondade, se diz ternura e meiguice. Porque, se bondade é um gênero que abrange todas as espécies, não há necessidade de falar em ternura e meiguice.
Ora, isso que em tese, genericamente falando, teria sua razão, para a psicologia brasileira absolutamente não é assim. Porque para o brasileiro vem primeiramente a noção genérica de bondade. Porém, depois, especifica-se nele a ideia de que não é uma bondade qualquer, mas uma bondade com suas características especiais. Então ele acrescenta ternura e meiguice. E ainda que não saiba explicitar o sentido das palavras como estou fazendo, o “i” da meiguice fá-lo sentir uma coisa, e o “u” da ternura fá-lo sentir outra.
Vê-se nisso uma nota característica de uma criteriologia especificamente brasileira. Creio mesmo que no português de Portugal não se leva isso tão longe como no do Brasil, mas não tenho certeza.
Aqui fechamos o parêntese e vamos adiante em nossas reflexões.
Da falsa autossuficiência ao desamparo. A relação entre o afeto materno e o paterno é tal que o primeiro exprime certas bondades de Deus, que o segundo não exprime. Deus é tão admirável, tão perfeito, que para fazer sentir toda a sua bondade, dentro da família, serve-Se do pai e da mãe. Uma só criatura humana não seria capaz de todas as formas de afeto necessárias para a educação adequada dos filhos, e para lhes dar uma ideia completa da bondade divina.
Creio que as gerações posteriores à minha foram muito favorecidas num ponto: na minha geração, ensinava-se ao menino uma falsa autossuficiência que era, mais propriamente, uma insolência em relação a todo mundo, baseada no apoio dado pela família. Com base nesse apoio, a criança tomava uma atitude autossuficiente, e a plenitude de seu desenvolvimento consistia em ter essa autossuficiência meio agressiva, meio insolente.
Nas gerações seguintes, em geral, tenho percebido que, dentro do anonimato do mundo moderno, as pessoas se sentem meio desamparadas, entregues ao léu, sem apoio algum. Fico especialmente comovido quando, em contato com um jovem de outro país, noto nos primeiros olhares uma interrogação: “O senhor será mesmo o homem bom de quem me falaram? E me dará a forma de amparo e apoio de que preciso?”

Ora, pela virtude e pela condição de mãe, Dona Lucilia dava muito essa noção de amparo. O que eu recebi de amparo dela, simplesmente não tenho palavras para exprimir! E as gerações recentes são mais ávidas disso do que a minha.
Continua

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