sábado, 10 de outubro de 2015

A elevação de alma de Dona Lucilia II

Continuação do post anterior
Uma graça que lhe fazia ver um horizonte pleno de sublimidade
Mas o que era esse lumen?
Evidentemente era algo de substância, de fundo religioso, mas como uma senhora o concebe, não, portanto, teologicamente expresso. Tratava-se de uma graça que produzia efeitos na fisionomia dela, fazendo-lhe ver um horizonte longínquo, cheio de sublimidade e, ao mesmo tempo, exigindo dor e dando afabilidade. E que lhe permitia relacionar muito as coisas, de maneira a achar bonitas, agradáveis, belas, quando eram criadas por Deus.
Ela era muito pormenorizada em tudo. Por exemplo, ao comentar o franzido das pétalas de um cravo e como era diferente de outra, mostrando a bonita variedade que isso possuía. Eu não me lembro em concreto que ela tenha falado isso sobre os cravos, mas seus comentários eram nessa clave.
Assim mamãe via todas as coisas da natureza. Ela era mais sensível à natureza do que eu, e menos sensível à arte do que eu. Isso se explica porque, no fundo, vejo na arte um fenômeno de opinião pública, e isso ela pegava de um modo muito vago, incompleto, como era vocação dela, tão ligada à minha, mas era outra. É compreensível, e até absolutamente natural.
Tomem, por exemplo, uma fotografia dela tirada em Paris, à maneira daquele tempo, sentada num banco de madeira laqueado de branco, muito pouco bonito. Ela sabia que estava sendo fotografada e tomou uma atitude conveniente, como se fazia naquela época.
Percebe-se que ela está prestando atenção, mas seu olhar está noutra cogitação, que era continuamente a consideração de altos horizontes e uma interpretação da humanidade, da vida, portanto, dos próximos dela, em função de uma desilusão que vinha crescendo. De minha parte, fiz o possível para que não houvesse essa desilusão a meu respeito. Um de seus maiores sofrimentos era ver as devastações que a ausência desse lumen produzia nas almas.
Modo como Dona Lucilia rezava
No convívio com mamãe, eu recebi muito disso; e ela devia ver em mim, mas dava manifestações mínimas. Demonstrava muito carinho, mas palavras faladas, não.
Não me consta que mamãe me tenha feito um elogio a ninguém. As cartas dela transbordam de afeto e de carinho altamente elogioso, de maneira implícita; dizem muito como ela me quer bem, mas não fundamenta a razão do querer bem.
Quando ela afirmou “eu só tenho a você, mas você eu tenho inteiramente”, não era um elogio, mas uma manifestação de afeto; e isso ocorria a toda hora, mas era diferente de um elogio.
Presenciei muitas vezes mamãe rezar. Nunca a vi orar com fisionomia romântica, sonhadora, sorrindo para a imagem... Nada disso, absolutamente. Mas ela sempre estava muito recolhida, muito respeitosa. O afeto transbordava dela, especialmente quando estava de pé, rezando próximo à imagem do Sagrado Coração de Jesus, no salão azul.
O olhar dela era de uma grande elevação, mas, por assim dizer, nunca paramos para nos olhar um ao outro, a não ser uma vez ou outra, quase mais por gracejo, instantaneamente, uma coisa muito fugaz.
Mas eu peregrinei muito nesse olhar, como uma ave voa no céu!

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 2/5/1981

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