terça-feira, 22 de setembro de 2015

O amor materno de Dona Lucilia - I

Quando Dr. Plinio adoeceu, em 1967, o apartamento em que ele residia com sua mãe passou a ser frequentado por alguns jovens membros do Movimento fundado por ele, e que iam visitá-lo. Assim, esses jovens começaram conhecê-la melhor e admirar as altas virtudes que ornavam a sua alma.
O amor materno de Dona Lucilia, o feitio maternal do amor dela, fazia com que eu tivesse a impressão de que a sua alma esperava não sei quantos filhos espirituais, mil, mais do que mil, que estavam para vir. Talvez na sua última prece, Dona Lucilia tenha incluído esses filhos, dos quais ela começava apenas a ter uma noção.
Calma, tranquilidade e serenidade da casa de Dr. Plinio
Com efeito, foi um contraste vivíssimo na nossa casa: a solidão, a tranquilidade, a distinção, o modo de ser de todas as coisas que reinava no primeiro andar da Rua Alagoas1; e depois, bruscamente, quando eu adoeci, a movimentação dos meus então jovens discípulos, quando começaram a frequentar a casa.
Até o momento em que eu adoeci, no ano de 1967, com a enfermidade de diabetes, a nossa casa era a mais calma, a mais tranquila e a mais serena que se poderia imaginar. Era um apartamento bem dividido, com vários cômodos amplos, móveis que mamãe tinha tido a vida inteira, trazendo lembranças do passado. Por outro lado, também, com alguns objetos — que eu comprara na Europa para ela e para mim — os quais falavam a ela a respeito do presente e representavam esperanças do futuro, que ela sabia que eu guardava no meu coração. Tudo isso constituía um todo só do apartamento da Rua Alagoas, primeiro andar.
Bondade, firmeza e distinção de Dona Lucilia
Mas, quando eu adoeci, aquela parede que eu mantinha erguida — e além da qual ninguém passava, porque me parecia que o respeito devido a pessoas anciãs, como eram os meus pais, supunha que eles pudessem ter extrema calma e bem-estar nos últimos anos de suas vidas — rachou e começaram a aparecer alguns membros de nosso Movimento, para me visitar.
A maioria deles não conhecia meus pais, quer dizer, tinham me visto alguma vez numa igreja com eles, e na saída os cumprimentavam, muito de passagem. Mas nunca tinham tido uma conversa, um entretenimento com eles.
Com meu pai, que às vezes ia ao meu escritório na cidade, eles ainda tinham alguma conversa. Com minha mãe, absolutamente nunca.
Quando começaram a ter contato com ela, notei com surpresa — porque eu nunca tinha imaginado a eventualidade desse contato — que os meus jovens filhos espirituais tinham uma compreensão dos altos valores que habitavam na alma dela, de sua bondade, firmeza, distinção, acolhida, bem como seu afago e afeto, o que me deixava verdadeiramente pasmo.
Estando em convalescença, eu costumava ir do meu quarto de dormir para o escritório e ali passava o dia inteiro, reclinado sobre um sofá, esperando que cicatrizassem os resultados de uma complicada operação a que me submetera.
Os dias de cicatrização eram lentos e monótonos. Mas em certo momento aquela monotonia se rompia, porque começava a tocar a campainha e pessoas entravam; e a toda hora era mais um que chegava, cumprimentava, eu mandava que sentasse, conversava e, às vezes, o escritório ficava cheio de gente.
Eu notava que eles percebiam que mamãe, sendo extremamente idosa, tinha a vista e a audição prejudicadas pelo avançar da idade. Os médicos tinham dito que ela sofria de catarata, uma doença que forma uma espécie de película que recobre os olhos, e naturalmente atrapalha a visão; à pequena distância, ela já não enxergava bem.
Por isso, meus jovens amigos faziam discretos comentários. Um chamava atenção do outro, fazendo sinal com um dedo para notar o modo de tal gesto de mão dela. Outro, quando ela perguntava, ou dizia algo, ou oferecia alguma coisa, tinha a sua atenção atraída pela amabilidade extrema com que era feito o oferecimento.
1 Residência de Dr. Plinio, Rua Alagoas, 350, no bairro de Higienópolis, em São Paulo.

Continua no próximo post

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