quarta-feira, 22 de julho de 2015

Carinho extremo...

À primeira vista, dir-se-ia que veneração e ternura são incompatíveis, mas, na realidade, tais sentimentos se confundem a propósito do carinho: sentindo-se objeto do carinho materno, o filho deseja retribuí-lo.
A veneração é a manifestação do grande respeito que um ser inferior presta a um superior.
Em princípio, o superior tem o direito de julgar e punir o inferior. A mãe, embora anciã e sem forças, continua tendo o poder e o direito de castigar seu filho maior de idade. Para um filho que sabe o que é uma mãe, e uma mãe que entende o significado deste título — portanto é mãe no sentido próprio, direto e pleno da palavra —, uma censura, um conselho, um elogio feito pela mãe tem o peso que poucas coisas humanas possuem. Só um elogio, um conselho ou uma censura da Santa Igreja podem pesar mais sobre um homem.
Essa veneração envolve certo elemento que a Igreja, empregando muito bonita expressão, define como temor reverencial; ou seja, o temor que se tem a uma pessoa não tanto devido à força de que ela dispõe, quanto ao respeito que impõe. Então, o temor reverencial que o filho tem para com a mãe parece ser o contrário do carinho. Porque o carinho é de modo especial o afeto que o mais velho, mais poderoso, mais pleno dá àquele que é mais fraco, mais débil.
Veneração, ternura e carinho
Pode-se falar, por exemplo, do carinho de uma mãe para com seu filho. É mais difícil falar do carinho de um filho para com sua mãe. O próprio “inho” da palavra “carinho” tem qualquer coisa que soa aos nossos ouvidos como se fosse um diminutivo, o qual vai bem para quem é mais em relação a quem é menos; e não tão bem para aquele que é menos relativamente a quem é mais.
Na realidade, porém, a veneração e a ternura se confundem completamente, a propósito do carinho. Quer dizer, o filho, sentindo-se objeto do carinho da mãe, tem um desejo de retribuí-lo; o carinho da mãe desperta o carinho no coração do filho.
De maneira tal que um homem poderá ser durante toda a sua vida particularmente bom, misericordioso, condescendente — no bom sentido da palavra — se ele teve uma mãe muito carinhosa. Porque nasce no coração dele o carinho e, portanto, todas as formas de bondade. Ele gosta até de se sacrificar, de fazer alguma coisa difícil por quem merece seu carinho.

Então, o carinho materno jorrando sobre o filho é como a água que cai de grande altura sobre uma pedra. Quanto maior a altura, mais a água sobe de novo ao bater na pedra. Assim é o carinho materno: verte-se sobre o filho e deste como que respingam gotas de água, as quais se pudessem voltariam ao alto. O equilíbrio dessas duas coisas faz propriamente o equilíbrio do homem, porque quando ele só quer impor o respeito dos outros, mas não sabe ser afetuoso, fica faltando algo; e quando apenas é afetuoso, porém não sabe impor respeito, ele não é um homem autêntico, porque o próprio do homem é saber se impor.

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