quinta-feira, 11 de junho de 2015

Qualidades de Dona Lucilia

Analisando, cheio de amor, as qualidades de sua extremosa mãe, Dr. Plinio não teve dificuldade em aderir àquela que foi a “fonte de tanta bondade”: a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
À semelhança das senhoras de seu tempo, mamãe usava uma pulseira de marfim com incrustações, vinda da Europa. E eu, aos doze ou treze anos, brincando com o braço dela — não sem alguma brutalidade inerente aos meninos que vão se tornando mais velhos —, girava a pulseira, e, sendo o marfim um material muito duro, machucava-a um pouco. Não se tratava de nada muito grave, mas, sendo a pulseira muito dura, isso fez uma mancha escura num ponto de seu braço. E ela não se queixou de nada; em vez de se zangar — porque uma mancha dessas é feia, uma senhora não gosta de ter isso —, ela ficou encantada.
Certo dia, quando almoçávamos em casa de minha avó, onde morávamos, uma pessoa da família perguntou para ela:
— Lucilia, o que é esta machucadura em seu braço?
Ela olhou — para ter tempo de pensar — e depois disse com muita naturalidade:
— Isso foi um agrado do Plinio.
Foi uma gargalhada geral na mesa, gargalhada afetuosa, mas que mexia com ela. Era tal o encanto dela por mim, que até quando eu, involuntariamente, a machucava, ela ficava maravilhada.
Mesmo quando eu era importuno, a mansidão de mamãe a fazia ficar ainda mais encantada; e isso me deixava enlevadíssimo por ela.
A harmonia afetuosa e grandiosa que ela exprimia, fazia-me pensar: “Ela é formidável, acima de qualquer pessoa que eu conheço. Eu vejo tantas pessoas em torno dela, pessoas muito boas, mas ninguém tem essa virtude extraordinária, essa harmonia de personalidade, essa lógica e esse afeto contínuo que ela tem.”
Jesus Cristo, fonte da bondade da Igreja e dos homens
Um dia, estando sentado ao lado dela na Igreja do Coração de Jesus — ela ocupava sempre o mesmo banco e, evidentemente, reservava um lugar junto a si para mim —, eu olhei de soslaio para ver o que estava fazendo, e percebi que estava rezando à imagem do Sagrado Coração de Jesus, a qual fica no alto do altar-mor. Ela me pareceu extremamente semelhante com a imagem. Certamente, por ser muito devota do Sagrado Coração, ela recebia d’Ele as extraordinárias qualidades que possuía.
Isso me fez explicitar o seguinte: “Jesus Cristo é o fundador da Igreja; por isso, a Igreja se assemelha a Ele. Mamãe, sendo membro da Igreja, também se assemelha a Nosso Senhor, e d’Ele recebe a mansidão, a bondade, a ternura.”
Tendo nascido d’Ele, a Igreja Católica é responsável por todo o bem que há no mundo; não há bem que não seja feito por ela.
Comecei, então, a prestar atenção na Igreja — na Missa, nos ornamentos, no edifício — e percebi que era tudo feito segundo o mesmo estilo. Assim compreendi que era a mentalidade da Igreja que se reproduzia em Dona Lucilia, porque ela era filha da Igreja e a Igreja forma seus filhos, como uma mãe forma sua prole.
Não posso permitir que não se tenha toda a devoção à Igreja
Com isso, comecei também a prestar atenção numa imagem do Coração de Jesus que ela possuía. Então, ao olhar para a imagem, eu pensava: “Ele é o mestre de mamãe, por isso sua alma é tão parecida com a d’Ele. Ele é infinitamente mais perfeito, porém, à força de amá-Lo, ela acabou por ficar parecida com Ele.”

Foi assim que nasceu em mim o amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, a crença na Santa Igreja Católica e a devoção a Nossa Senhora.  

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 14/8/1993

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