terça-feira, 16 de junho de 2015

A confiança de Dona Lucilia

Como boa mãe, o principal anelo de Dona Lucilia era guiar seus filhos pelas sendas da virtude. Assim, transbordante de afeto, em diversas ocasiões demonstrou ela o quanto a fidelidade de seu filho Plinio Correa de Oliveira lhe importava…
Os desígnios da Providência para com Dona Lucilia e para comigo foram diferentes. Ela foi suscitada para ter paciência com um filho, educá-lo e entregá-lo a Nossa Senhora. Esse filho foi suscitado para entrar na batalha de êxito mais improvável no mundo, tendo, entretanto, a certeza de que a vitória chegaria de modo surpreendente.
Dona Lucilia tinha diante de si a tarefa de fazer com que esse filho chegasse a bom porto na prática da Religião Católica, que é a finalidade de sua vida; ele depois deveria lutar pela Igreja Católica. A confiança dela consistia em esperar com firmeza e tranquilidade — diante de dados muito improváveis, mas que não a abalavam, não a punham em dúvida — que essa obra educativa religiosa dela chegasse ao bom termo.
O Menino Jesus discutindo com os doutores da Lei
Lembro-me perfeitamente que aos domingos, quando íamos à Igreja do Coração de Jesus, ela ficava muito tempo rezando, depois da Missa, diante das imagens do Sagrado Coração de Jesus, de Nossa Senhora Auxiliadora, e depois frente a um grupo de imagens que representa o Menino Jesus no Templo, discutindo com os doutores.
Embora muito jovem, eu conhecia o fato de que o Menino Jesus discutiu com os doutores, mas não compreendia bem que relação Dona Lucilia poderia estabelecer entre esse episódio e o filho dela. Eu ia com ela até esse conjunto de imagens e notava que mamãe rezava uma oração com os olhos semicerrados, que não sei se era sempre a mesma ou se ela simplesmente pronunciava palavras que mudavam de cada vez. Ela fazia um movimento de lábios pelo que se percebia que estava pedindo com muito empenho alguma coisa, mas não se ouvia nada do que dizia.
Certo dia, por uma palavra que ela soltou, percebi que as graças pedidas por ela diante daquele oratório eram para mim. Então compreendi, pois eu estava em oposição constante a pessoas de uma orientação anticatólica, e mamãe queria que eu recebesse do Menino Jesus a força, a insistência, a coragem, comparáveis em ponto pequeno com a infinitude perfeitíssima e abismática de tudo quanto há em Nosso Senhor, a fim de que eu imitasse o Divino Mestre e discutisse com os fariseus do meu tempo. Ela rezava muito nesse sentido.
“Você é sempre o mesmo”
Em várias ocasiões, eu notava que ela prestava muita atenção em mim e procurava olhar dentro do meu olhar para ver se eu continuava fiel. Ela orava muito para que eu mantivesse essa fidelidade.
Não posso me esquecer da primeira vez que, quando já adulto, fiz uma viagem à Europa1. Mandei avisar que eu estaria de volta no dia tanto. De fato, de manhã, quando regressei, fui do aeroporto diretamente para casa, imaginando que a encontraria na cama, deitada, porque o avião chegou muito cedo; eu falaria um pouco com ela e depois iria tomar lanche e dormir.
Encontrei-a, pelo contrário, toda vestidinha como se fosse receber visita, e sentada num sofá que há em casa, em frente à porta de entrada; ela estava me esperando chegar.
Quando entrei — lembro-me do lugar do sofá em que ela estava sentada —, ela voou em minha direção e me abraçou; sendo consideravelmente mais baixa que eu, mamãe pôs-se na ponta dos pés, e eu me inclinei para que ela conseguisse me circundar com os seus braços, abracei-a também e nos beijamos várias vezes.
Mas durante esse longo amplexo ela, de repente, parou, me olhou e disse: “Não, você é sempre o mesmo!”
Compreendemos o que havia por detrás disso. Ir à Europa representava sempre uma ocasião de perigo: “Todo homem pode pecar. Ele terá resistido? Voltará para meus braços do mesmo modo como ele era quando partiu? Eu quero ver. Vou fixar o olhar dele.”

Ela o fez afetuosamente, é claro. Não entendi bem o que estava acontecendo; olhei para o fundo dos olhos dela e achei tão agradável aquele olhar, tão bonito, que só me preocupei em me deliciar com aquilo. Nós nos osculamos outras vezes, depois fomos para o lanche e o dia começou.
Continua no próximo post

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