Plinio Correa de
Oliveira analisa, cheio de amor, as qualidades de sua extremosa mãe.
Quando ainda muito
jovem — talvez aos três anos de idade —, eu notava em mamãe uma harmonia, uma
bondade e uma elevação em tudo quanto ela fazia: tudo quanto ela dizia era
elevado, tudo aquilo em rumo do qual ela se movimentava era bom. Em síntese,
ela possuía um extraordinário conjunto de qualidades que formavam um todo.
Lembro-me, por
exemplo, de quando eu tinha insônias. Durante certo período de minha infância
fui sujeito a acordar durante a noite.
Quando a criança
acorda durante a noite e vê que todos da casa estão dormindo, naturalmente é
tomada por uma sensação de solidão e de insegurança. Ela não tem ninguém que a
proteja das sombras formadas apenas por uma tênue luz que penetra no quarto
escuro através da veneziana, dando-lhe uma sensação do peso do próprio corpo e
da própria alma, que a faz pensar: “Devo enfrentar sozinho esta situação, e se
acontecer alguma coisa tenho que resolver o problema. Se entrar um ladrão, o
que vou fazer? Talvez eu deva acordar papai e mamãe. Mas, se o ladrão perceber
e me matar?”
Propositadamente,
mamãe mandava colocar todas as noites minha cama junto à sua, e abaixava a
grade que as separava. Então, quando eu acordava e via mamãe dormindo com uma
respiração muito regular, mas muito profunda e tranquila, eu sabia que, caso
tivesse necessidade, apesar de seu sono profundo, se eu conseguisse acordá-la,
ela me faria uma boa acolhida.
Eu então desatava a
chamá-la. Porém, como todo menino — eu tinha dois anos de idade! — não
pronunciava bem as palavras, e em vez de dizer “mãezinha”, dizia:
— Manguinha,
manguinha!
Ela não atendia.
Então, sentava-me sobre seu peito para despertá-la e, quando ela não acordava,
eu, de um temperamento categórico desde pequeno, começava a mexê-la. Às vezes,
por estar doente ou devido a um sono naturalmente muito profundo, ela
continuava a dormir. Eu pensava: “Ela não acorda, mas estou precisando dela
mais do que nunca... Não aguento esta solidão.” Em certo momento, eu decidia:
“Bom, vou arriscar tudo: abrirei os olhos dela com meus dedos.” Naturalmente
isso tinha de dar certo! E eu o fazia sem o mínimo mau humor, mas pelo
contrário, com muito afeto e respeito.
Afinal ela acordava,
e então eu sentia tudo de uma só vez: um afeto aveludado, profundo, envolvente
e tranquilizador, uma pena que mostrava quanto ela compreendia minha dor e o
embaraço no qual eu me encontrava. Estreitava-me junto a si, sentava-se
imediatamente, sorria e dizia:
— Filhinho, o que é?
— Eu não estou
conseguindo dormir.
Ela se sentava, e eu
lhe pedia:
— Manguinha, conte-me
uma história.
Não se tratava tanto
de que eu quisesse ouvir uma história, mas sim eu desejava que ela não dormisse
para eu não ficar sozinho naquela vastidão obscura. Ela então me contava uma
história, dentre as muitas que ela sabia, e eu ficava encantado.
À medida que ela ia
falando, eu ia me tranquilizando e o sono naturalmente ia vindo. Quando
percebia que eu já estava com bastante sono, ela me suspendia pelos braços e me
punha deitado em minha cama; eu já estava derrotado e dormia profundamente.
Ao acordar na manhã
seguinte, eu sentia uma profunda impressão de toda aquela harmonia e carinho
que eu tinha recebido durante a noite; por isso, ia eu logo para a cama dela a
fim de acordá-la, beijá-la e perguntar-lhe como tinha passado. Ela ficava
encantada. Ou seja, mesmo com todos esses pequenos aborrecimentos que uma
criancinha dá, pelo afeto extraordinário que tinha para comigo, ela ficava
contente.
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