Com as vistas postas
no benefício espiritual que estas tocantes recordações poderão propiciar às
almas de nossos leitores, rendemos uma homenagem à Dona Lucilia neste 47º ano
de seu passamento.
Plinio Correa de
Oliveira tributou a Dona Lucilia entranhado amor de filho, tendo-a como exemplo
de alma cristã e como apoio no quotidiano de seu apostolado.
Naquela manhã de 21
de abril de 1968, após fazer um grande Sinal da Cruz, Dona Lucilia — como mais
tarde diria alguém — “saía com majestade de uma vida que soube levar com
honra”. Conservou em seus últimos instantes a mesma serenidade com que, durante
nove décadas, arrostara muitos sofrimentos, sem surpresa nem inconformidade.
Para Dr. Plinio, a
despedida não significou propriamente um adeus, pois a sentiu sempre presente
junto a si, conforme ele mesmo se comprazia em frisar:
“Na hora do corpo de
mamãe deixar a casa em direção ao cemitério, comecei a sentir que o apartamento
estava todo impregnado da presença dela, como se ainda estivesse lá. Essa ação
de presença suave, essa forma de tranqüilidade post mortem que ela me comunicou,
dentro da existência e das condições comuns do dia-a-dia, tudo tão normal, tão
corrente, tão autêntico, representa para mim uma fonte de contínua alegria.
“Eu peregrinei dentro
do olhar dela, feito de doçura, desde os meus primeiros olhares de criança
recém-nascida, até o derradeiro olhar do último ‘boa noite’, depois do qual não
nos vimos mais em vida. Eu, que tanto amei essa doçura, que tanto fiz dela um
gáudio, uma razão de bem-estar para minha vida, sinto-a pairar ainda a todo
momento na casa, que é dela, não minha.
“Dona Lucilia se foi,
mas nunca deixei de sentir sua presença junto a mim, como a sentia quando era
viva. E, devo dizer, durante o nosso convívio terreno, esse sentimento se
enriquecia por uma peculiar consonância entre o espírito de mamãe e a atmosfera
da igreja do Coração de Jesus. Não posso me esquecer de quando, durante a Missa
ou uma visita ao Santíssimo Sacramento, ajoelhava-me ao lado dela e,
observando-a, notava como se embebia daquela atmosfera da igreja, quase como se
fosse uma segunda natureza.
“De tal maneira que,
ao retornarmos à casa, um ambiente digno, porém sem a espiritualidade própria
ao edifício sagrado, eu pensava: ‘É pena que minha casa não possa ser como a
igreja’. Contudo, ao ver mamãe caminhar de um lado para outro, eu me dava
conta: ‘Bem, mas é como se um raio de luz da igreja reluzisse por aqui...’
“E é interessante
que, quando eu precisava me ausentar em viagens curtas ou longas, separando-me
de Dona Lucilia, consolava-me a ideia de que a lembrança dela e a do ambiente
da Igreja do Sagrado Coração de Jesus me acompanhariam. E que assim eu
conservaria na minha memória uma espécie de presença dela, tão grata, tão afim
comigo, que não representaria para mim propriamente uma separação.
“Nesse caso, o
provérbio francês tão adequado — partir,
c’est mourir un peu 1 — não se aplicava.
Partir era apenas tomar distância. E no outro extremo da distância estava ela
e, sobretudo, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus...”2
1) Partir é morrer um
pouco.
2) Conferências em
7/5/1977, 21/4/1981 e 22/4/1983.
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