quinta-feira, 16 de abril de 2015

O estado de espírito de Dona Lucilia ante o sofrimento

Talis vita finis ita — tal vida, tal morte! Este célebre adágio latino vem-nos ao espírito quando analisamos o modo de ser de Dona Lucilia ante os sofrimentos e adversidades. Pois a serenidade e a delicadeza de alma que ela teve durante a vida foram as mesmas que se manifestaram na hora de sua morte.

Em diversas ocasiões, eu vi mamãe sofrer. Em todas elas o aspecto preponderante era o seguinte: quando o sofrimento era causado por alguém dos círculos dela, o qual havia prejudicado algum direito seu, procedendo mal em relação a ela, o sofrimento dela consistia em considerar o pecado.
Ela possuía pena de quem o praticou, mas sobretudo lhe pesava ver Deus ofendido, o bem calcado aos pés, o mal que de todo modo deveria ser evitado, tendo sido praticado pela miséria de alguém.
E só mesmo depois de analisar profundamente a ofensa feita a Deus é que ela passava à consideração do mal que aquela falta poderia fazer a ela, ou para os filhos, ou para alguma outra coisa ou pessoa, e isso também lhe doía profundamente. Antes de tudo, no terreno moral, no qual ela via uma recusa de afeto e de correspondência às suas boas intenções. Uma alma leal e equitativa como a dela, apesar de tão afetuosa, não se deixava iludir com o afeto insincero de outros, os quais lhe causavam profundo sofrimento.
Ante os maiores sofrimentos, tranquilidade e dignidade
No entanto, acima de tudo isso transparecia nela uma paz, uma tranquilidade que davam impressão de que a dor era uma montanha, na qual a alma dela subia, indo muito além de seu cume. Desta forma nunca se ouvia de seus lábios uma palavra amarga, ou um gemido desse gênero: “Por que Deus fez ou permitiu que se desse uma coisa dessas? O que vai acontecer agora?!” Seus lábios eram inteiramente imaculados de ditos deste gênero. Pelo contrário, tudo ela tomava com uma inteira confiança e com toda a normalidade. Por vezes era tão grande o sofrimento, que ela chegava a chorar. Era raro, mas quando se dava era um pranto doce, filial e confiante, durante o qual ela detinha seu olhar na imagem do Sagrado Coração de Jesus, que ficava no quarto dela, e continuava sofrendo, com dignidade e tranquilidade até o fim. Isto foi assim até o ocaso de sua vida.
Lembro-me que esta delicadeza de alma dela se manifestou até mesmo na hora de sua morte.
O último cintilar da delicadeza de Dona Lucilia
Estava ela com noventa e dois anos de idade e muito doente. Em certa noite seu estado de saúde foi se agravando, e de manhã ela estava muito mal. Ela sabia que eu estava dormindo, e que estava doente, mas não sabia tratar-se de uma crise de diabetes que me fizera sofrer a amputação de alguns artelhos, e para não me incomodar foi sofrendo e chegando à agonia, sabendo que faltava pouco para a hora de eu me levantar, mas antes disso não queria me chamar. E com quanta dor para mim ela morreu sem me chamar. Estou certo que se ela soubesse que iria morrer, teria pedido para acordar-me, pois ela sabia o quanto eu sofreria por não poder estar junto dela neste momento, mas a morte veio repentinamente. Mas era tal o respeito dela pelos outros, a preocupação pelo sofrimento insignificante de seu filho acordar antes do normal. Desta forma, ela, mesmo na hora do grande sofrimento da morte, permaneceu confiante, e acrescentando a esta bela joia de sua alma, ornada de delicadeza e bondade, este último e reluzente brilhante.

Plinio Correa de Oliveira - Extraído de conferência de 7/4/1989

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