Talis
vita finis ita — tal vida, tal morte! Este célebre adágio latino vem-nos ao
espírito quando analisamos o modo de ser de Dona Lucilia ante os sofrimentos e
adversidades. Pois a serenidade e a delicadeza de alma que ela teve durante a
vida foram as mesmas que se manifestaram na hora de sua morte.
Em diversas ocasiões,
eu vi mamãe sofrer. Em todas elas o aspecto preponderante era o seguinte:
quando o sofrimento era causado por alguém dos círculos dela, o qual havia
prejudicado algum direito seu, procedendo mal em relação a ela, o sofrimento
dela consistia em considerar o pecado.
Ela possuía pena de
quem o praticou, mas sobretudo lhe pesava ver Deus ofendido, o bem calcado aos
pés, o mal que de todo modo deveria ser evitado, tendo sido praticado pela
miséria de alguém.
E só mesmo depois de
analisar profundamente a ofensa feita a Deus é que ela passava à consideração
do mal que aquela falta poderia fazer a ela, ou para os filhos, ou para alguma
outra coisa ou pessoa, e isso também lhe doía profundamente. Antes de tudo, no
terreno moral, no qual ela via uma recusa de afeto e de correspondência às suas
boas intenções. Uma alma leal e equitativa como a dela, apesar de tão afetuosa,
não se deixava iludir com o afeto insincero de outros, os quais lhe causavam
profundo sofrimento.
Ante os maiores sofrimentos, tranquilidade e dignidade
No entanto, acima de
tudo isso transparecia nela uma paz, uma tranquilidade que davam impressão de
que a dor era uma montanha, na qual a alma dela subia, indo muito além de seu
cume. Desta forma nunca se ouvia de seus lábios uma palavra amarga, ou um
gemido desse gênero: “Por que Deus fez ou permitiu que se desse uma coisa
dessas? O que vai acontecer agora?!” Seus lábios eram inteiramente imaculados
de ditos deste gênero. Pelo contrário, tudo ela tomava com uma inteira confiança
e com toda a normalidade. Por vezes era tão grande o sofrimento, que ela
chegava a chorar. Era raro, mas quando se dava era um pranto doce, filial e
confiante, durante o qual ela detinha seu olhar na imagem do Sagrado Coração de
Jesus, que ficava no quarto dela, e continuava sofrendo, com dignidade e
tranquilidade até o fim. Isto foi assim até o ocaso de sua vida.
Lembro-me que esta
delicadeza de alma dela se manifestou até mesmo na hora de sua morte.
O último cintilar da delicadeza de Dona Lucilia
Estava ela com
noventa e dois anos de idade e muito doente. Em certa noite seu estado de saúde
foi se agravando, e de manhã ela estava muito mal. Ela sabia que eu estava
dormindo, e que estava doente, mas não sabia tratar-se de uma crise de diabetes
que me fizera sofrer a amputação de alguns artelhos, e para não me incomodar
foi sofrendo e chegando à agonia, sabendo que faltava pouco para a hora de eu
me levantar, mas antes disso não queria me chamar. E com quanta dor para mim
ela morreu sem me chamar. Estou certo que se ela soubesse que iria morrer,
teria pedido para acordar-me, pois ela sabia o quanto eu sofreria por não poder
estar junto dela neste momento, mas a morte veio repentinamente. Mas era tal o
respeito dela pelos outros, a preocupação pelo sofrimento insignificante de seu
filho acordar antes do normal. Desta forma, ela, mesmo na hora do grande
sofrimento da morte, permaneceu confiante, e acrescentando a esta bela joia de
sua alma, ornada de delicadeza e bondade, este último e reluzente brilhante.
Plinio Correa de
Oliveira - Extraído de conferência de 7/4/1989
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