quinta-feira, 19 de março de 2015

Serenidade na alegria e na dor (cont)

Continuação do post anterior
Calma e serenidade em meio aos dissabores
Mamãe conservava esta serenidade até mesmo nos momentos mais difíceis. Em todas as dificuldades, ela nunca se portava com agitação ou torcida.
Depois do primeiro impacto de um revés qualquer, ela pensava um pouco e dizia: “Bom, eu vou fazer isto, falar aquilo, resolver de tal forma.” Planejava tudo, e depois, com  toda  a  tranquilidade,  começava  a  execução do plano.
Naturalmente, à medida que fui ficando mais velho, ela foi se abrindo  mais  comigo,  e  passou  a  contar-me  muito dos dissabores que ela teve durante a vida, contava-me também como eram os planos que ela fazia para  solucionar estas dificuldades.
Eu  achava  os  planos  dela  muito bem calculados, bem feitos. Certamente, isto se devia ao fato de serem concebidos na serenidade e na  calma, com base na fé e numa razão  muito equilibrada e direita. Eles me  causavam muito contentamento.
Contrastando  o  temperamento de minha mãe com o difundido  por Hollywood, eu assimilei o dela,  e me habituei a passar pelos mais  terríveis  revezes  com  a  tranquilidade e a serenidade que eu via em  Dona Lucilia.
Este estado de espírito, no fundo,  era uma plena confiança em Deus,  que  a  levava  a  pensar  o  seguinte:  “Por mais que nos advenham os piores  infortúnios,  Deus  permitiu,  e,  portanto, é para o nosso bem. Estes  sofrimentos são o ornato da vida.” 
Assim ela via o sofrimento, com  inteira serenidade, sabendo que tudo acontece por uma razão mais alta que está em Deus.
Jesus sofredor, modelo de serenidade seguido por Dona Lucilia
Para  conservar  esta  serenidade,  creio que concorriam as Vias Sacras  que ela rezava na Igreja do Sagrado  Coração de Jesus, diante de estações  não muito artísticas, porém sérias e  piedosas. Em cada uma das estações  está representado um sofrimento de  Cristo durante sua Paixão. Em todos  eles,  Nosso  Senhor  é  apresentado  com uma enorme serenidade e tranquilidade, por mais que sejam enormes seus sofrimentos. Ele sofre, sabendo que tem de sofrer, e por isso não toma aquilo como sendo algo  extraordinário e inconcebível.
Contudo, foram tais os sofrimentos de Nosso Senhor, que nós não podemos sequer imaginá-los. Tomemos,  por exemplo, o estudo realizado por  um médico francês, Dr. Pierre Barbet,  sobre o Santo Sudário de Turin. 
Um  dos  pontos  analisados  pelo  afamado  cirurgião  foi  a  posição  de  Cristo na cruz. Um prego Lhe atravessava — de uma só vez — os dois  pés; outros dois, um em cada punho,  prendiam-n’O à Cruz. Caso Ele quisesse apoiar-se mais nos pés do que  nos  braços,  para  assim  aliviar  um  pouco a dor, seus pés seriam rasgados; por outro lado, se Cristo tentasse  aliviar a dor de seus pés, sustentando  o corpo unicamente com os braços,  seus pulsos seriam rasgados. 
Em meio a todas estas dores, Ele  permanece calmo, analisando os dois  ladrões  crucificados  a  seu  lado.  De  repente, um começa a blasfemar; o  outro, vendo-O se converte e começa  a defendê-l’O. E Nosso Senhor promete-lhe: “Em verdade te digo: hoje  estarás comigo no paraíso.” (Lc. 23,43)
Donde vemos que, apesar de todos os padecimentos que Lhe eram  impostos,  Cristo  mantinha  a  certeza de que aquilo iria terminar, e sua  missão seria cumprida.
Olhar sereno que infundia serenidade
Assim era a serenidade de Nosso Senhor neste terrível passo da Paixão. Frei Pedro de Cristo, ao compor uma canção que diz “Ojos claros serenos, si pues morís por mi, miradme al menos — olhos claros serenos, se  morreis por mim, olhai-me pelo menos”, acertou enormemente. Pois, de fato, se Aquele que, em meio a tantos sofrimentos, conservou tal serenidade,  pousasse  o  olhar  sobre  alguém, isto bastava para infundir-lhe  a mesma paz.
Mamãe, que tantas vezes vi diante da imagem do Sagrado Coração de Jesus, olhando-O durante longas horas, talvez tenha recebido d’Ele um olhar,  que bem pode ter sido a causa de haver nela tanta serenidade. Algo semelhante  dava-se  com  Dona  Lucilia:  quem se aproximava dela recebia algo  desta serenidade que, em última análise, vinha de Cristo Nosso Senhor.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 11/03/1995

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