Continuação do post anterior
Calma e serenidade em meio aos dissabores
Mamãe conservava esta
serenidade até mesmo nos momentos mais difíceis. Em todas as dificuldades, ela
nunca se portava com agitação ou torcida.
Depois do primeiro
impacto de um revés qualquer, ela pensava um pouco e dizia: “Bom, eu vou fazer
isto, falar aquilo, resolver de tal forma.” Planejava tudo, e depois, com toda
a tranquilidade, começava
a execução do plano.
Naturalmente, à
medida que fui ficando mais velho, ela foi se abrindo mais
comigo, e passou
a contar-me muito dos dissabores que ela teve durante a
vida, contava-me também como eram os planos que ela fazia para solucionar estas dificuldades.
Eu achava
os planos dela
muito bem calculados, bem feitos. Certamente, isto se devia ao fato de
serem concebidos na serenidade e na
calma, com base na fé e numa razão
muito equilibrada e direita. Eles me
causavam muito contentamento.
Contrastando o
temperamento de minha mãe com o difundido por Hollywood, eu assimilei o dela, e me habituei a passar pelos mais terríveis
revezes com a
tranquilidade e a serenidade que eu via em Dona Lucilia.
Este estado de
espírito, no fundo, era uma plena
confiança em Deus, que a
levava a pensar
o seguinte: “Por mais que nos advenham os piores infortúnios,
Deus permitiu, e,
portanto, é para o nosso bem. Estes
sofrimentos são o ornato da vida.”
Assim ela via o
sofrimento, com inteira serenidade,
sabendo que tudo acontece por uma razão mais alta que está em Deus.
Jesus sofredor, modelo de serenidade seguido por Dona Lucilia
Para conservar
esta serenidade, creio que concorriam as Vias Sacras que ela rezava na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, diante de estações não muito artísticas, porém sérias e piedosas. Em cada uma das estações está representado um sofrimento de Cristo durante sua Paixão. Em todos eles,
Nosso Senhor é
apresentado com uma enorme
serenidade e tranquilidade, por mais que sejam enormes seus sofrimentos. Ele
sofre, sabendo que tem de sofrer, e por isso não toma aquilo como sendo
algo extraordinário e inconcebível.
Contudo, foram tais
os sofrimentos de Nosso Senhor, que nós não podemos sequer imaginá-los.
Tomemos, por exemplo, o estudo realizado
por um médico francês, Dr. Pierre
Barbet, sobre o Santo Sudário de Turin.
Um dos
pontos analisados pelo
afamado cirurgião foi
a posição de
Cristo na cruz. Um prego Lhe atravessava — de uma só vez — os dois pés; outros dois, um em cada punho, prendiam-n’O à Cruz. Caso Ele quisesse
apoiar-se mais nos pés do que nos braços,
para assim aliviar
um pouco a dor, seus pés seriam
rasgados; por outro lado, se Cristo tentasse
aliviar a dor de seus pés, sustentando
o corpo unicamente com os braços,
seus pulsos seriam rasgados.
Em meio a todas estas
dores, Ele permanece calmo, analisando
os dois ladrões crucificados
a seu lado.
De repente, um começa a
blasfemar; o outro, vendo-O se converte e
começa a defendê-l’O. E Nosso Senhor
promete-lhe: “Em verdade te digo: hoje
estarás comigo no paraíso.” ( Lc. 23,43)
Donde vemos que,
apesar de todos os padecimentos que Lhe eram
impostos, Cristo mantinha
a certeza de que aquilo iria
terminar, e sua missão seria cumprida.
Olhar sereno que infundia serenidade
Assim era a
serenidade de Nosso Senhor neste terrível passo da Paixão. Frei Pedro de
Cristo, ao compor uma canção que diz “Ojos claros serenos, si pues morís por
mi, miradme al menos — olhos claros serenos, se
morreis por mim, olhai-me pelo menos”, acertou enormemente. Pois, de fato,
se Aquele que, em meio a tantos sofrimentos, conservou tal serenidade, pousasse
o olhar sobre
alguém, isto bastava para infundir-lhe
a mesma paz.
Mamãe, que tantas
vezes vi diante da imagem do Sagrado Coração de Jesus, olhando-O durante longas
horas, talvez tenha recebido d’Ele um olhar,
que bem pode ter sido a causa de haver nela tanta serenidade. Algo
semelhante dava-se com
Dona Lucilia: quem se aproximava dela recebia algo desta serenidade que, em última análise,
vinha de Cristo Nosso Senhor.
Plinio
Correa de Oliveira – Extraído
de conferência
de 11/03/1995
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