domingo, 15 de março de 2015

Serenidade na alegria e na dor

A impostação da alma inocente diante da normalidade da vida quotidiana prepara-a para os momentos de alegria, bem como para os de sofrimento. Assim se dava com Dona Lucilia, serena na alegria, mas também na provação.
Mamãe tinha um  temperamento eminentemente sereno. Mesmo quando algo lhe transmitia uma especial  alegria, ela não perdia a tranquilidade. Nestas ocasiões, sua reação não era distinta da que ela teria nos dias comuns.
Por exemplo, quando ela verificou minha inteira inocência diante  da  suspeita de eu ter falsificado a nota  do meu boletim no Colégio São Luís, sua alegria tinha como base motivos razoáveis, não se tratando de  uma reação meramente instintiva.
Assim, nos momentos de alegria, ela  hauria  esta  serenidade  que  depois se estendia para os momentos  de dor e sofrimento. Pois ela amava  Nosso Senhor Jesus Cristo, e se Ele  tanto  sofreu  sem  nunca  reclamar,  conservando  inteira  serenidade,  também ela deveria ser desta forma.
As pequenas alegrias preparavam-na para conservar a serenidade diante da dor
Desta  forma,  todas  as  suas  pequenas  alegrias  ao  longo  de  cada  dia preparavam-na para conservar-se serena diante de sofrimentos futuros. 
Por  exemplo,  num  dia  comum,  agradável  e  tranquilo  —  como  era  normal  na  São  Paulinho  daqueles tempos —, ao aproximar-se a hora de  meu retorno do colégio, ela sempre  ficava um pouco preocupada, com receio de que me acontecesse algo pelo caminho. Sobretudo por ser eu um  pouco  distraído,  ela  temia  que  um  automóvel me atropelasse. Por isso,  ela permanecia no terraço andando  um pouquinho e tomando ar, muito  serena, apesar de preocupada.
Em certo momento, ela via o portão se abrir e eu entrar. Quando eu  percebia que mamãe estava lá, tirava  o chapéu e a cumprimentava, depois  ia  correndo  falar  com  ela.  Mas,  às  vezes, eu não a via e entrava direto.  Nestas ocasiões, creio que ao me ver  entrar, ela deveria sorrir serenamente e dizer: “O meu filhão chegou.” Era um fato inteiramente  normal,  mas ela o vivia dentro de uma atmosfera religiosa, a qual fazia de minha  simples chegada uma causa de felicidade para ela. Nestas alegrias suaves  e tranquilas, ela encontrava a serenidade e a paz para sua alma.
Assim,  quando  eu  chegava  junto dela, não encontrava nenhum resquício da preocupação que tinha há  pouco, pois a primeira impressão de  minha chegada bastava para a tranquilizar.  E,  aproximando-me  dela,  ela dizia suavemente: “Filhão, como  vai?” Isto me dava muito agrado, e  eu o manifestava de forma truculenta, beijando-a e abraçando-a muitas  vezes, sem me preocupar com o modo de fazê-lo...
“Sua serenidade me tranquilizava”
À noite, quando minha irmã e eu  já estávamos dormindo, Dona Lucilia passava pelo quarto de Rosée e  depois pelo meu, e fazia várias cruzinhas em nossas frontes, pedindo a  Deus que nos abençoasse. 
Algumas vezes, acontecia de eu  acordar nessa hora, mas, ainda que  eu  não  despertasse  inteiramente,  percebia tratar-se de mamãe; então,  dormia ainda mais contente e tranquilo, por saber que aquela serenidade havia pousado sobre mim.

Assim era Dona Lucilia: suave e  afetuosa, até mesmo à noite!  
Continua no próximo post

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