Dona Lucilia não era
de maneira alguma uma mãe abobada, e sim coerente. Com ela “dois mais dois era
igual a quatro”. Se não houvesse esta nota dominante, eu não gostaria dela como
gosto.
Lembro-me de que,
quando eu era mocinho, na época de formação do caráter, mamãe me dizia o
seguinte: “Os tempos são muito ruins e você ainda é moço. Ninguém sabe do que é
capaz uma pessoa que se extravia. É bom você saber que eu preferiria vê-lo morto
a desencaminhado.” Ela daria a vida para que eu não morresse, mas preferia
ver-me morto a colocado numa situação de pecado mortal, em ruptura com a
Igreja. É assim que se deve ser. A seriedade dela me impressionava
profundamente.
Isto me ajudava a
refletir, pois, sendo muito lógico, eu apreciava o encadeamento do pensamento,
chegando a cogitações como a seguinte: “É belo que ela seja intransigente e
leve a intransigência até o fim do caminho! Esta atitude demonstra como ela é
integra. E às pessoas que são íntegras deve-se querer inteiramente.”
Refletindo sobre a intransigência de sua mãe
A partir disto eu
fazia reflexões doutrinárias: “O que é a intransigência? Se nela é bela, também
será em outros. Então, há algo intrínseco na intransigência que torna bela
minha mãe. Logo, há algo para além dela que lhe dá a beleza e vale mais do que
ela. Isso tem que ser definido doutrinariamente.” Porém, eu percebia não bastar
definir a intransigência, pois, uma vez elaborado o conceito, ou essa qualidade
existe de modo absoluto em uma outra ordem de coisas que não é a nossa, ou a
definição nada significa. E pensava: “Para entender o que é, preciso ter união
de alma com mamãe, a fim de ser intransigente como ela.”
Ou seja, minha alma
estava voltada para algo que eu não sabia ser o Céu e, portanto, Deus. Deus não
corresponde a uma definição da virtude que existe fora d’Ele e com a qual
procura se conformar. Ele é a personificação de todas as virtudes.
Esse foi um grande
dia de minha vida, em que descobri isso, a propósito de um exemplo tão simples
como uma mãe dentro de casa, comentando uma manteiga, contando uma história de
família ou tratando de algo doméstico.
A vida de mamãe era
marcada por um modo de ser que convidava à reflexão doutrinária e ao ato de Fé.
Do mais profundo de minha alma, agradeço-lhe tudo que ela fez por mim.
Com Dona Lucilia
aprendi a fazer algumas reflexões e sobretudo a ter enorme gosto de passar da
impressão para a reflexão. De maneira que não era preciso cortar a impressão
para começar a refletir; a reflexão se evolava da impressão, como o perfume sai
de uma flor.
Plinio Correa de
Oliveira – Extraído de conferência de 10/8/1980
Nenhum comentário:
Postar um comentário