sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Prolongada estabilidade de alma

Do trato ameno e acolhedor para com os outros, ao zeloso cuidado com sua própria saúde, Dona Lucilia procurou sempre manter o mesmo estado de espírito, nascido da prática da virtude, da convicção de seus princípios católicos e de um firme equilíbrio emocional, conforme no-la descreve Dr. Plinio.
Em mamãe, a par da sua invariável afabilidade e acolhimento para com os que dela quisessem se aproximar, seria preciso considerar também o aspecto de senhora de categoria que, sem se situar num patamar inacessível, sabia entretanto impor respeito.
Equilíbrio em todas as coisas
Por exemplo, diante dela, não vinha a vontade de lhe dirigir uma brincadeira ou dito irreverente, menos ainda de desacatá-la. Se alguém se aventurasse a isso, ela, com suavidade, colocaria a pessoa no seu devido lugar, fazendo-a compreender como tivera uma atitude despropositada. A pessoa reconheceria e pediria desculpas, sem nenhum ressentimento da parte de mamãe. Ela nunca revidaria de modo rude: “Mas, afinal, eu proibi que agisse assim comigo!”. Não. Com mansidão e bondade, deixaria o outro constrangido pelo que fez de errado, mas sem afligi-lo nem magoá-lo com uma repreensão excessiva.

Era o modo de ser dela, equilibrado em tudo, fosse no relacionamento com as pessoas, fosse no cuidado consigo mesma. Aliás, de saúde frágil, mamãe sempre se cuidou judiciosamente, até o fim da vida. Sem nada de desgrenhado, dilacerante nem de tristeza do estado de enfermidade, mas com o equilíbrio do doente que se trata e se resigna.
A vida inteira num estado de espírito
Esses diversos aspectos se mostravam nela, cada um a seu modo, ocupando na sua alma o relevo que deviam ocupar e formando, portanto, uma harmonia emocional que importava numa harmonia relacional. Ou seja, mamãe convivia harmonicamente com as pessoas, porque seu estado emocional estava ordenado.
Agora, tanto mais se a observasse, mais se notava algo que, a meus olhos de filho, não é difícil reconhecer: uma longa estabilidade de alma. Se tomarmos algumas de suas últimas fotografias, ver-se-á que ela não se apresentava com aquele estado de espírito sereno e equilibrado só porque foi retratada “num momento fugaz”. Não se trata de um instante, mas de uma existência inteira vivida assim, a ponto de ela se tornar conatural a esse equilíbrio.
Não é, portanto, alguém que, num flagrante, foi fotografado numa hora feliz. Porque dizer: “Fulana de tal num instante feliz de sua vida”, seria quase afirmar que muitos dos outros momentos de sua vida foram infelizes e ela estava alegre somente naquele instante.
Ora, no caso de mamãe não era um momento feliz. Era ela, como foi durante longos anos. Toda uma vida passada nesse estado de espírito.
A questão é: como pode esse estado emocional perdurar tanto num espírito, se não for em virtude de princípios que são a justificação lógica desse estado emocional? Pois a emoção, de si, é algo volátil. 
Continua no próximo post.

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