segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Onde está a mãe...

Continuação do post anterior
“Plinio bleibt bei Mutter”
Naturalmente, eu a vi inúmeras vezes nesse estado de espírito elevado. E em tais momentos ela não era de falar muito: respondia bem às perguntas que lhe fazíamos, atendia-nos de maneira natural, mas percebia-se que sua cabeça estava posta em outra coisa. Seja como for, agradava-me de modo especial estar junto a mamãe nessas horas, e aquele estado de espírito dela, de alguma maneira se comunicava a mim. Então, era uma cena clássica: as crianças todas da família reunidas no jardim da casa da avó, brincando e correndo de um lado para outro sob a vigilância de suas respectivas governantas.
A nossa, Fräulein Matilde, responsável por minha irmã, uma prima e eu, de vez em quando se aproximava para se certificar de que estávamos todos ali. E dava-se o fato que ela depois comentava com mamãe, e Dona Lucilia se comprazia em repetir (até na mais avançada ancianidade, ela se deliciava em recordar): com frequência, a Fräulein notava que eu abandonava os folguedos da criançada e sumia do jardim.
“Onde foi parar o Plinio?”, perguntava-se, e se punha a me procurar pela casa. Invariavelmente, eu estava bleiben bei Mutter, isto é, eu tinha fugido para ficar perto de mamãe. Então, das outras vezes, quando a Fräulein percebia a minha ausência, não se preocupava. Dirigia-se tranqüilamente a algum dos ajudantes da casa e perguntava: “Onde está Dona Lucilia?”. A resposta indicaria o lugar do meu refúgio. Ela se aproximava da sala em questão, e de longe já ouvia minha conversa com mamãe. Claro, ela entendia muito bem que não devia separar o filho de junto da mãe, e sabia que Dona Lucilia não gostaria que ela me dissesse: “Venha cá, volte para o brinquedo!”
Pelo contrário, mamãe repetia com imensa satisfação o dito da Fräulein Matilde: “Plinio bleibt bei Mutter” — “o Plinio fica onde está a mãe”. Eu escapava do corre-corre dos meninos e ia para junto de Dona Lucilia. Como é natural, as crianças não gostavam muito de que eu fugisse, e dali a pouco começavam a gritar por mim. Então a Fräulein voltava para onde estávamos e comunicava: “Dona Lucilia, o pessoal está chamando o Plinio”. Com muito afeto, mamãe me beijava e me dizia: “Filhão, vá lá, desça e brinque com os seus amigos. Estão chamando você.”
Eu retribuía o beijo, dava um suspiro e descia. Mas, na primeira ocasião...

Plinio Correa de Oliveira - Extraído de conferência em 9/5/1993

Nenhum comentário:

Postar um comentário