No acervo de suas
reminiscências do convívio com sua extremosa mãe, Dr. Plinio colhe, uma vez
mais, lembranças das manifestações de elevação de alma com as quais Dona
Lucilia pontuava o quotidiano doméstico, e que tanto o atraíam, desde a mais
remota infância, a estar sempre onde ela estivesse...
Em outras ocasiões já
me foi dado recordar como, no contato com mamãe, eu percebia que o pensamento
dela pairava, de modo habitual, em considerações elevadas, de ordem espiritual,
postas na meditação das coisas divinas e das realidades sobrenaturais.
Pensamentos que transcendiam, portanto, o comesinho e o terreno do dia-adia.
Sem deixar de ser, porém, uma dona de casa e mãe de família, vivendo a sua
existência doméstica e, pois, atenta aos afazeres concretos que sua condição
lhe exigia.
Desejosa de atrair os outros à mesma elevação de alma
Mas, a propósito do
concreto, ela se achava constantemente num estado de alma mais elevado,
desejando que os outros do seu ambiente também subissem àquelas cogitações, a
fim de participarem da alegria que a riqueza desses pensamentos lhe
proporcionava.
A esses patamares do
espírito, mamãe ascendia com muita suavidade, de maneira natural, tranquila,
sem esforço, e com uma estabilidade completa naquilo que ela via e naquilo que
alcançava com essas reflexões. Além disso, com muita bondade e desejo de me atrair
— a mim, ainda menino — para aquelas altas considerações. Nessa vontade de me
comunicar suas expansões de alma eu compreendia que mamãe tinha essa visão
superior das coisas, entendendo-as de modo diferente do que as pessoas em geral
entendiam.
O gosto pelo estilo francês
Por exemplo, com a
paz, a serenidade e a elevação de vistas que lhe eram características, Dona
Lucilia se deliciava com as manifestações do espírito francês e com os produtos
do requinte e charme alcançados por esse povo. Não era em nada por prazer
mundano, e sim porque o mundo francês era para ela um imenso cabochon, uma
pedra preciosa cujos reluzimentos se devia admirar. E nessa admiração ela nos
convidava a nós, seus filhos, a igualmente apreciarmos e tomarmos gosto pelo
estilo francês, como expressão do melhor que o talento humano até então havia
engendrado.
Lembro-me, nesse
sentido, de nossa viagem à França, em 1912, quando minha irmã e eu éramos muito
pequenos, e mamãe procurava nos insinuar esse gosto através dos comentários que
fazia, dos presentes que nos comprava ou das iguarias que nos levava para
saborear em boas casas de chá. Tudo isso nos convidava a subir naqueles patamares
onde ela passeava seus pensamentos.
Continua no próximo
post
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