sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O carinho de Dona Lucilia evita um castigo

Continuação do post anterior
Qual foi a atitude de mamãe?
Sem dúvida aquela nota representou uma má surpresa para ela, pois não podia esperar um resultado tão desfavorável. Eu, por minha vez, receava um pito, uma censura mais veemente, levantando a hipótese de me mandar para o internato do Colégio Caraça, como ela já havia feito anteriormente, por ocasião de uma nota que eu modifiquei no meu boletim.
Mas, mamãe percebeu que aquele mau resultado se devia mais a um nervosismo de minha parte do que a qualquer outro fator. Ela me tinha visto estudar muito, sabia de minha boa vontade e a aplicação que eu deitara para me sair bem nas provas. Em virtude disso, a atitude dela foi inteiramente diferente daquela tomada quando alterei a nota baixa que me haviam dado no Colégio São Luís.
Para meu espanto, mamãe fez um comentário superficial, e em seguida me disse:
— À tarde, você chama seu primo e vão os dois tomar um sorvete e se distrair um pouco na cidade.
Dias depois era a festa do meu aniversário. Tudo transcorreu normalmente, sem nenhuma “sanção”. O mesmo se verificou no Natal, não havendo qualquer mudança na demonstração do afeto dela para comigo, por exemplo, dando-me presentes de valor menor aos do ano anterior ou coisa semelhante. Nada disso.
No próximo exame, eu passaria com nota bem regular. Ela manifestou seu contentamento, sem me fazer grandes elogios. Tudo terminou em boa paz. Era o carinho à moda brasileira que evitava um castigo, e, dessa forma, só contribuiu para me aproximar ainda mais de mamãe.
Compreendendo a infinita bondade do Coração de Jesus
Para concluir, reitero o que já tive oportunidade de dizer: a bondade e a compaixão de mamãe eram reflexos da infinita misericórdia do Sagrado Coração de Jesus, e me foram de grande auxílio para compreender essa divina clemência que se debruça sobre cada homem.
Eu costumava olhar para as imagens do Coração de Jesus e pensava: “Se Ele é infinitamente melhor do que mamãe, então como será a sua bondade?!” Era um ponto de partida para muitas meditações. Especialmente me comovia o considerar a transfixão do coração d’Ele pela lança de Longinos: “Depois de Ele ter feito pelos homens tudo quanto fez, ainda recebe no coração um golpe que Lhe tira todo o resto de sangue que podia ter dado. E, oh! maravilha, essa mistura de sangue e água ainda opera um último milagre aos pés da Cruz, pois curou a doença dos olhos do seu próprio algoz!”
Essa bondade extrema, manifestada no momento mesmo em que o beneficiado O feria, tocava-me profundamente a alma. E eu pensava: “Essa é uma misericórdia infinita, incalculável, e está disposta a favorecer a todos, inclusive a mim. Eu, portanto, com inteira confiança, apesar de meus defeitos, devo caminhar até Ele!”  

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência em 20/9/1994

Nenhum comentário:

Postar um comentário