Continuação do post anterior
Qual foi a atitude de
mamãe?
Sem dúvida aquela
nota representou uma má surpresa para ela, pois não podia esperar um resultado
tão desfavorável. Eu, por minha vez, receava um pito, uma censura mais
veemente, levantando a hipótese de me mandar para o internato do Colégio
Caraça, como ela já havia feito anteriormente, por ocasião de uma nota que eu
modifiquei no meu boletim.
Mas, mamãe percebeu
que aquele mau resultado se devia mais a um nervosismo de minha parte do que a
qualquer outro fator. Ela me tinha visto estudar muito, sabia de minha boa
vontade e a aplicação que eu deitara para me sair bem nas provas. Em virtude
disso, a atitude dela foi inteiramente diferente daquela tomada quando alterei
a nota baixa que me haviam dado no Colégio São Luís.
Para meu espanto,
mamãe fez um comentário superficial, e em seguida me disse:
— À tarde, você chama
seu primo e vão os dois tomar um sorvete e se distrair um pouco na cidade.
Dias depois era a
festa do meu aniversário. Tudo transcorreu normalmente, sem nenhuma “sanção”. O
mesmo se verificou no Natal, não havendo qualquer mudança na demonstração do
afeto dela para comigo, por exemplo, dando-me presentes de valor menor aos do
ano anterior ou coisa semelhante. Nada disso.
No próximo exame, eu
passaria com nota bem regular. Ela manifestou seu contentamento, sem me fazer
grandes elogios. Tudo terminou em boa paz. Era o carinho à moda brasileira que
evitava um castigo, e, dessa forma, só contribuiu para me aproximar ainda mais
de mamãe.
Compreendendo a infinita bondade do Coração de Jesus
Para concluir,
reitero o que já tive oportunidade de dizer: a bondade e a compaixão de mamãe
eram reflexos da infinita misericórdia do Sagrado Coração de Jesus, e me foram
de grande auxílio para compreender essa divina clemência que se debruça sobre
cada homem.
Eu costumava olhar
para as imagens do Coração de Jesus e pensava: “Se Ele é infinitamente melhor
do que mamãe, então como será a sua bondade?!” Era um ponto de partida para
muitas meditações. Especialmente me comovia o considerar a transfixão do
coração d’Ele pela lança de Longinos: “Depois de Ele ter feito pelos homens
tudo quanto fez, ainda recebe no coração um golpe que Lhe tira todo o resto de
sangue que podia ter dado. E, oh! maravilha, essa mistura de sangue e água
ainda opera um último milagre aos pés da Cruz, pois curou a doença dos olhos do
seu próprio algoz!”
Essa bondade extrema,
manifestada no momento mesmo em que o beneficiado O feria, tocava-me
profundamente a alma. E eu pensava: “Essa é uma misericórdia infinita,
incalculável, e está disposta a favorecer a todos, inclusive a mim. Eu,
portanto, com inteira confiança, apesar de meus defeitos, devo caminhar até
Ele!”
Plinio Correa de
Oliveira – Extraído de conferência em 20/9/1994
Nenhum comentário:
Postar um comentário