Diante das mais duras
contrariedades que a Providência permitiu enfrentasse ao longo de sua vida, Dona
Lucilia manifestou invariável tranquilidade e profunda confiança no socorro do
Céu. Nessas horas de sofrimento, recorda Dr. Plinio, dela nunca se ouviu uma queixa
nem uma lamentação, pois tinha sua alma alicerçada nos mais altos valores
espirituais que devem reger nossa existência neste mundo.
Quando já anciã, Dona Lucilia começou a ouvir menos e a ter as vistas empanadas por catarata. Numa época em
que a remoção desse mal não era aconselhável em pessoas idosas, mamãe se
percebia caminhando para uma espécie de sepultamento em vida, posto que privada
da visão e da audição. Situação para ela bastante dolorosa, pois era uma pessoa
muito comunicativa e, de um momento para outro, se achava completamente
isolada.
Notava eu que essa
circunstância lhe trazia tristeza e melancolia, mas nenhuma amargura nem
queixa. Trilhava seu caminho com o passo igual ao de todos os momentos, e
seguia em frente.
Afinal, depois de
economizar algum dinheiro, foi-me possível comprar para ela um aparelho de
audição. O começar a usá-lo representou para mamãe como um reflorescer: pôde
ouvir melhor e, com isso, participar novamente das conversas e do convívio
familiar. Sua satisfação era notória, porém não de uma alegria intemperante. A
toada da sua vida continuou na mesma linha, na mesma tranqüilidade, na mesma
dignidade. Por um princípio de fidelidade, não mudou em absolutamente nada:
“Meu modo de ser, com a graça de Deus, é o que me parece mais conveniente a uma
senhora católica. Sejam os outros de outra maneira, eu continuarei meu caminho
e assim será até o fim. Ainda que custe isolamento e incompreensão, assim será
até eu morrer. Com calma e tranquilidade.”
Acima de tudo, os valores religiosos
Pela misericórdia de
Maria Santíssima, nossa situação financeira melhorou e nos foi possível mudar
para o bom apartamento da Rua Alagoas, num dos melhores bairros de São Paulo da
época, onde mamãe poderia passar o resto de sua vida cercada de mais conforto e
dignidade. Dona Lucilia o percebeu e ficou muito satisfeita, sem perder aquela
igualdade de ânimo e a temperança de espírito que, a meu ver, significavam a
perfeita proporção entre o acontecimento externo e a
repercussão interna dentro da vida dela. De maneira que ela vibrava em face das
coisas na medida em que essa vibração deveria existir, segundo uma ordem de
valores em que o religioso estava acima de tudo. Abaixo — embora ela não
soubesse empregar o termo — vinham os valores metafísicos, em seguida os
morais, e, por fim, os interesses contingentes da existência humana, tratados
com o devido e legítimo cuidado.
Quanto a estes
últimos, por exemplo, lembro-me de como ela se desdobrava para que minha irmã e
eu tivéssemos o necessário para mantermos uma boa saúde, ou uma ótima educação,
contratando inclusive a Fräulein Mathilde, preceptora alemã que tinha sido
governanta em excelentes famílias europeias.
Quer dizer, mamãe não
negligenciava o contingente, mas este se mantinha no manso e calmo terreno das
coisas contingentes. O essencial da vida era se preocupar com os valores mais
altos, religiosos, conformes à Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Era
conhecer-se e querer-se bem…
Plinio
Correa de Oliveira – Extraído
de conferência em 24/6/1973
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