sábado, 25 de outubro de 2014

Minha Lady Perfection II

Continuação do post anterior
Sempre o melhor possível
Quer dizer, desde o mais delicado e mais carinhoso, até o mais firme e mais decidido, mamãe procurava fazer tudo do melhor modo que lhe fosse possível. Outro exemplo é a maneira como ela se dispunha a animar a vida de família.
Vivíamos em casa de minha avó, mãe dela e matriarca dos Ribeiro dos Santos, numa dependência especialmente reservada para nós . Contudo, em se tratando de uma casa muito grande, era natural que mamãe se dedicasse a ajudar vovó nos cuidados domésticos, supervisionando os criados, a manutenção da despensa, verificando as contas e coisas do gênero.
Além disso, com o auxílio da Fräulein, ela costurava e fazia certas peças de roupa para nós, não por se sentir obrigada, mas porque gostava e desejava, por afeto, que usássemos algo confeccionado por ela . E com razão: uma coisa é o filho usar uma gravata comprada na loja, outra é envergar aquela cortada com carinho por sua mãe. E tudo levado a cabo com tal capricho que pensávamos: “Não era possível fazer, nesse caso, nada melhor do que ela fez”.
Sejamos perfeitos como Deus é perfeito
Esse anelo de perfeição era tão característico de mamãe que eu, acostumado a pôr-lhe apelidos — sempre respeitosos e afetuosíssimos —, durante algum tempo a chamei de Lady Perfection, isto é, Senhora, Madame ou Dona Perfeição . E quando eu me referia a ela por essas alcunhas carinhosas, ela demonstrava grande contentamento . Diante do quê, meu pai, homem de muito bom gênio, olhava para ela e dizia, arremedando o sotaque português:
— Não te derretas…
Queria observar, com esse gracejo, que ela por pouco não se desmanchava de satisfação com os meus agrados. Mamãe lhe respondia com uma fisionomia séria, eu dizia outras afabilidades para ela, e nesse trato ameno terminavam nossos encontros.
Tomo a liberdade, porém, de encerrar esses comentários e reminiscências com um conselho que, parece-me, vem a propósito . No célebre Sermão da Montanha, Nosso Senhor se exprimiu desse modo que nos surpreende: “Sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48).
Ora, o Pai celeste é a Primeira Pessoa da Santíssima Trindade e, portanto, é Deus. “Sede perfeito como Deus é perfeito”, seria pedir ao homem algo impossível. Então os exegetas explicam: “como” não significa aqui ser igual ou tanto, mas à maneira de. O sentido da frase de Nosso Senhor é este: sede perfeitos segundo o exemplo de vosso Pai celeste; Ele é o modelo, procurai imitá-Lo”.
Sendo assim, peçamos a Nossa Senhora, Filha perfeita e diletíssima do Pai celeste, que nos alcance uma perfeição semelhante à d’Ela, para, desse modo, atendermos ao apelo do divino Mestre.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência em 10/9/1994

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