terça-feira, 5 de agosto de 2014

Sustentada pela confiança em Deus

Continuação do post anterior
“Ela conservou, no extremo da debilidade, a segurança da ordem do espírito, da inteligência, da boa consciência” — continua Dr. Plinio. “Ela foi caminhando para dentro das sombras da morte com toda a serenidade...
“Até seus derradeiros instantes, foi sustentada pela confiança, que lhe fez não perder a certeza de alcançar aquilo para o que sua vida inteira parecia estar voltada: almas cujos corações se abrissem para ela e se deixassem envolver totalmente por sua bondade.
“Um pouco dessa luz se levantou para mamãe já perto do fim, quando ela tomou contato com os tão numerosos jovens que iam à minha casa um tanto para me visitar, e mais ainda para vê-la e falar com ela, especialmente alguns que mais com ela conviveram. Foi também nessa ocasião que ela irradiou, mais do que em todo o seu passado, aquela doçura e bondade cristãs de que seu coração transbordava. Foi o ápice.
“Durante aqueles dias, eu tinha uma idéia confusa de que ela conversava com as pessoas que esperavam para falar comigo. Eu não imaginava, porém, ter sido tão grande o entendimento entre ela e eles. Eu a via entrar no escritório ou em meu quarto, com a fisionomia animada e alegre, e eu me perguntava: ‘Por que será?’ Só depois de ela falecer, ao falar com um ou outro, fiquei sabendo que conversavam com ela, interrogavam-na, tiravam fotografias...
“Então dei graças a Nossa Senhora, porque os últimos dias dela foram cercados de especial carinho, marco inicial de um relacionamento que continuou, depois, junto à sua sepultura.”
Glória, luz e alegria
Por certo, naquele 20 de abril de 1968, suave crepúsculo de uma longa e bela vida, Dª Lucilia lançou sobre seu extenso passado um olhar feito de doçura, calma, bondade, senso de observação e uma ponta de tristeza.
Ela enfrentou tudo. Viveu, sofreu, lutou contra as adversidades da vida, sem conservar ressentimentos, nem acidez, nem recriminação a fazer, mas sem transigir nem ceder. Era o fim e o ápice de uma serena ascensão em linha reta.
Quem a observasse em seu leito de morte, teria a impressão de que, num nível próprio à dona-de-casa que ela era, um pouco de glória celestial já iluminava sua fisionomia tão afável, tão amável e tão pacífica até o fim.
Era a tranquilidade de quem se sentia protegida pela Providência, e sabia que somente lhe restava entregar a alma a Deus, junto ao Qual lhe estaria reservada esta tríplice ventura: glória, luz e alegria.
Assim, na manhã do 21 de abril, com os olhos bem abertos, dando-se inteira conta do solene momento que se aproximava, ela se ergueu um pouco, fez um grande sinal-da-cruz e, com inteira paz de alma e confiança na misericórdia divina, adormeceu no Senhor...
Beati mortui qui in Domino moriuntur.” 1
1 “Bem-aventurados os mortos que morrem no Senhor” (Ap 14, 13).

Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João S. Clá Dias

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