domingo, 13 de julho de 2014

“Coitada dessa moça...”

Observar os entretenimentos de Dª Lucilia, logo após o jantar, constituía um edificante passatempo para quem estivesse na residência dela.
Depois de retirada a mesa e acesas todas as lâmpadas do lustre, a empregada escolhia alguma revista da atualidade e a folheava diante de Dª Lucilia, chamando a atenção desta para certas peculiaridades que lhe escapavam às vistas já cansadas e um tanto prejudicadas pela catarata.
Certa noite, foi um verdadeiro encanto poder contemplar a profunda honestidade de alma de Dª Lucilia vendo-a folhear uma reportagem fotográfica da revista francesa Paris-Match sobre o “hippismo da flor”, ponta-de-lança da modernidade naqueles dias. Ao deparar com a reprodução, de página inteira, de uma jovem com uma margarida pintada em cada face, e outra na testa, não resistiu e exclamou:
— Ih! Mirene! Coitada dessa moça! Veja o que pintaram no rosto dela!
— Mas Dª Lucilia! Isso hoje em dia é moda!
— Moda?!
— Sim! Várias moças se pintam assim.
— Qual! Virando a página, apareceu uma jovem de mini-saia. Dª Lucilia se surpreendeu:
— Iiih! coitada dessa moça, tiraram uma fotografia dela quando ainda não estava inteiramente vestida! Deviam tê-la avisado!
Que comovedora a pureza de uma alma cândida!
A empregada disse:
— Não, ela está vestida. Hoje em dia é normal sair à rua assim.
— Mas, como?! Saiu à rua assim?
— Sim, Dª Lucilia, foi fotografada na rua.
Por suas reações, percebia-se perfeitamente que ela, devido a uma robusta e firme retidão de alma, rejeitava radicalmente aqueles desordenados costumes. E compreendia bem até que extremos de pecado pode chegar a natureza humana quando, sem freios, se entrega aos desmandos das paixões.
(Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João S. Clá Dias)


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