Observar
os entretenimentos de Dª Lucilia, logo após o jantar, constituía um edificante
passatempo para quem estivesse na residência dela.
Depois
de retirada a mesa e acesas todas as lâmpadas do lustre, a empregada escolhia
alguma revista da atualidade e a folheava diante de Dª Lucilia, chamando a
atenção desta para certas peculiaridades que lhe escapavam às vistas já
cansadas e um tanto prejudicadas pela catarata.
Certa
noite, foi um verdadeiro encanto poder contemplar a profunda honestidade de
alma de Dª Lucilia vendo-a folhear uma reportagem fotográfica da revista
francesa Paris-Match sobre o “hippismo da flor”, ponta-de-lança da modernidade
naqueles dias. Ao deparar com a reprodução, de página inteira, de uma jovem com
uma margarida pintada em cada face, e outra na testa, não resistiu e exclamou:
—
Ih! Mirene! Coitada dessa moça! Veja o que pintaram no rosto dela!
—
Mas Dª Lucilia! Isso hoje em dia é moda!
—
Moda?!
—
Sim! Várias moças se pintam assim.
—
Qual! Virando a página, apareceu uma jovem de mini-saia. Dª Lucilia se
surpreendeu:
—
Iiih! coitada dessa moça, tiraram uma fotografia dela quando ainda não estava
inteiramente vestida! Deviam tê-la avisado!
Que
comovedora a pureza de uma alma cândida!
A
empregada disse:
—
Não, ela está vestida. Hoje em dia é normal sair à rua assim.
—
Mas, como?! Saiu à rua assim?
—
Sim, Dª Lucilia, foi fotografada na rua.
Por
suas reações, percebia-se perfeitamente que ela, devido a uma robusta e firme
retidão de alma, rejeitava radicalmente aqueles desordenados costumes. E
compreendia bem até que extremos de pecado pode chegar a natureza humana
quando, sem freios, se entrega aos desmandos das paixões.
(Transcrito,
com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João S. Clá Dias)
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