sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Afetuoso convívio epistolar

Durante a viagem de Dr. Plinio pela Europa, em 1952, Dª Lucilia não se satisfazia apenas com as cartas que ele lhe escrevia. Não perdia ocasião de ler e guardar outras, enviadas pelo “filhão querido” aos amigos do 6º andar. Vejamos como descreve Dr. João Paulo a atitude de gratidão de Dª Lucilia para com seu sobrinho Adolpho, por lhe haver proporcionado a oportunidade de degustar uma delas:
Foi com o maior prazer que recebemos, trazida ontem pelo Adolpho, a tua carta coletiva, endereçada aos rapazes do 6º andar. Lucilia a leu à noite, ao deitar-se, e amanheceu a transmitir-me com calor todas as emoções que sentira; na suposição de que a carta fora deixada no seu criado mudo pelo Adolpho, abriu a favor deste um crédito de beijos a ser satisfeito à vista do mesmo Adolpho...
Tendo a referida carta sido entregue depois da que ela Lucilia te manda, por isso nenhuma alusão fez nesta àquela.
Em seguida Dr. João Paulo comenta um jantar oferecido por Dª Lucilia a alguns parentes:
Lucilia esmerou-se no feitio do seu banquete; houve bastante alegria e ela própria se manifestava afinal verdadeiramente radiante. Todavia, notava a tua falta, o que restringia sua alegria.
“As palavras de Cristo não passam”
À medida que se escoam os dias, apesar das saudades, encontramos Dª Lucilia sempre em paz e senhora de si, como nos mostram suas cartas. Em sua equilibrada atitude vemos reluzir o sentimento materno profundo e amoroso, guiado pelas virtudes da Fé e da Temperança.
São Paulo, 22-7-52.
Filho querido de meu coração saudoso!
Esperava receber uma carta... e nada! Provavelmente terei uma amanhã, não é verdade? Elas me chegam às mãos de ordinário, às terças ou quartas-feiras. Já enviei-te uma na semana passada para Madrid, foi recebida? Receio que sejam muito longas e fastiosas, mas sabes querido? é este ainda um único meio de me iludir de que, de algum modo, estou um pouco contigo.
Não sei porquê, mas sinto com freqüência uma forte apreensão de coração ou espírito, de que não te sentes bem de saúde, nem de espírito. Não abuses dos pratos deliciosos, mas excessivamente requintados dos restaurants. Cuidado com o fígado que é o nosso mal de família. Quanto ao mais, “tenhamos fé”, os Sagrados Corações de Jesus e de Maria, hão de te velar e proteger por todas as formas. Rezo e peço tanto ao “Canal das Graças”! E as palavras de Cristo, não passam. Hás de ser muito feliz, e abençoado por “Deus”.
Com teu pai, Rosée e Antônio, jantei ontem em casa de Maria Alice.
Maria Alice é um encanto em sua casa. Está colecionando umas receitas para eu executar para você, fez um creme delicioso — de côco — para o avô, e mandou vir uma bela fita cinematográfica inglesa, em tamanho natural, para ser passada na máquina do Eduardo. Maria Alice e Rosée acabam de sair, e enviam-te muitos beijos. Já mandaste dizer a missa que te pedi, no altar de Nª Sª da Begoña. Insisto muito nesse sentido. Vê se me fazes isto; sim?
Nossa casa continua sempre deliciosa, esperando pelo querido dono e senhor. Já viste todos os teus amigos espanhóis? Quando, e para onde vais agora?
Escreva-me e logo! Com todo o carinho, abençoo-te, beijo-te e abraço-te até ao fundo do coração. De tua mãe extremosa,
Lucilia.
No mesmo envelope da carta acima seguia outra, de Dr. João Paulo, informando a Dr. Plinio que Dª Lucilia “se encontra em boa saúde, satisfeita. Só uma coisa lhe dói, a saudade do filho ausente, que lhe não sai da memória constantemente”.
Poucos dias depois, novidades de Roma vinham alegrar o coração de Dª Lucilia. Eram os frutos de suas confiantes e persistentes orações que, agradecida, ela depositaria aos pés do Sagrado Coração de Jesus.
Roma, 18-7-52
Luzinha, meu amor
Recebi sua carta ontem, que me deixou indignado com o correio. Tenho escrito várias vezes, e a minha Lú me diz que só recebeu uma carta minha! É um escândalo, pura e simplesmente. Mas espero que a Sra. neste interim já tenha recebido pelo menos a última que lhe enviei de Roma.
A viagem, como proveito, supera de muito a minha expectativa. Conto deixar Roma para Barcelona domingo cedo, cheio de alegria.
Será que Rosée também não recebeu minhas cartas?
Escrevam para Madrid contando notícias bem detalhadas, principalmente Fazenda Sta. Alice que me dá cuidado pelo frio.
Meu amor querido, milhões de beijos para a Sra, do filho que a quer inexprimivelmente, e lhe pede a bênção.
Plinio

Essas seriam as últimas linhas que Dª Lucilia receberia vindas da bela Itália, pois a esta altura seu filho já se havia dirigido à galharda Espanha, terra que lhe recordava alguns remotos ancestrais.
Continua no próximo post.

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