segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Lembranças de afeto e solicitudes

Dª Lucilia - década de !940
Nos primeiros meses de 1941, Dª Lucilia mudou-se mais uma vez de casa. A nova moradia, na Rua Sergipe, 401, no bairro de Higienópolis, tinha a vantagem de estar situada na mesma rua em que morava sua filha, Dª Rosée, facilitando a esta fazer-lhe companhia durante as ausências de Dr. Plinio.
Pouco após a mudança, Dª Lucilia teve de despedir uma empregada. Não demorou a aparecer à sua porta, oferecendo seus serviços, uma mulher alta, de cabelos louros, olhos azuis, falando português com certa dificuldade e com voz um pouco estridente para ouvidos brasileiros. Chamava-se Olga e era natural da Letônia, um dos países bálticos que, no início da Segunda Guerra Mundial, caíram sob o domínio da Rússia comunista.
Como é normal, Dª Lucilia lhe fez algumas perguntas, para verificar se convinha ou não admiti-la. Depois das primeiras respostas, percebeu que a pobre Olga, além de possuir várias qualidades, havia passado por não pequenas tragédias na vida, e compadeceu-se dela, resolvendo contratá-la. Diante da bondade de Dª Lucilia, Olga não hesitou em lhe pedir permissão para levar com ela sua filha única, de 7 anos. Dª Lucilia seria incapaz de exigir que uma filha ficasse separada de sua mãe, pelo que acedeu de boa vontade.
Por causa dos infortúnios que se tinham abatido sobre a infeliz Olga, Dª Lucilia tratava-a com carinho e aos poucos foi conhecendo sua longa espiral de sofrimentos, sobre os quais aplicava sempre o lenitivo de um bom conselho. Agradecida, Olga acabou nutrindo respeitosa afeição por tão excelente senhora, a quem serviu dedicadamente por mais de 20 anos.
Evocativas recordações
Temos visto como Dª Lucilia guardava ciosamente em seus arquivos caseiros diversas cartas de seus filhos. Por que motivo não chegaram todas até nós? Escolhia apenas algumas? Não sabemos. Talvez reservasse as mais carinhosas ou as que mais saudades evocassem, ou quiçá tenha emprestado algumas a outros familiares e elas se extraviaram. Curiosamente encontram-se por vezes, entre seus papéis, simples bilhetes, na aparência sem maior significado, mas ilustrativos da enlevada benquerença que lhe devotava Dr. Plinio.
Em meio às graves reflexões de um retiro espiritual, por exemplo, escreve-lhe ele estas breves palavras:
Mãezinha querida,
Graças a Deus, o retiro vai correndo bem, com excelente pregador, ótima comida e um panorama maravilhoso.
Lamento muito que a Sra. não tenha ido a Prata.
Espero estar aí 2ª cedo, para matar as saudades, que não são poucas.
Com mil beijos para a Senhora e um abraço para Papai, pede-lhe a bênção o filho muito afetuoso e respeitoso.
Plinio
Já este segundo bilhete foi enviado por Dª Lucilia a seu filho, novamente em retiro. Realizava-se este no Seminário do Verbo Divino, em Santo Amaro (São Paulo):
Filho querido,
Manda-me dizer pelo portador, se Seminário do Verbo Divino, em Santo Amaro precisas de mais açúcar, ou de mais alguma cousa. Envio-te junto um pão, e pretendo mandar-te amanhã um bolo, mas, para isso, desejo saber se estes bons e excelentes padres não se ressentirão, percebendo que estás recebendo gulodices de fora. Quanto ao açúcar, é justo que o faças, devido à escassez do mesmo.
Queres neste caso que te envie uma latinha com açúcar em pó?
Saudosa, envia-te muitos beijos e abraços, tua mãe extremosa,
Lucilia.
No verão de 1941 Dr. Plinio foi ao Rio de Janeiro, onde aproveitou o ensejo para descansar um pouco. Prometeu como sempre a sua mãe escrever-lhe, contando com pormenores a viagem. Dessa estada na Cidade Maravilhosa são as linhas que seguem:
Rio, 2-II-41
Mãezinha de meu coração,
Com muitíssimas saudades suas, venho cumprir minha promessa, enviando-lhe minha primeira carta.
O calor está muito forte, mas o passeio ainda apresenta vantagem. Já jantei no Brahma, já fui a Niterói e ao Jardim Botânico, onde apanhei para a Senhora estas plantinhas chamadas “saca-rolhas” e fiquei conhecendo a vitória régia.
Estive com o Pe. Franca, que me fez muita festa, com o D. Aquino Corrêa¹, Pe. Felix². O Sr. Cardeal e Sr. Núncio estão em Petrópolis.
Conto visitar hoje S. Francisco e S. Bento.
Como vai a Sra? E Rosée? E a Katucha? Muitos beijos a ela.
Mil e mil beijos para a Sra., do filho que muito e muito a quer do fundo do coração e lhe pede respeitosamente a bênção.

Plinio
Acesse http://donalucilia.blogspot.com/ para ler a formação que Dª Lucilia dava a seus filhos.

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