Através da leitura dos jornais,
Dona Lucilia seguia atentamente o desenrolar dos trabalhos da Constituinte.
Além de desejar muito saber se as “Reivindicações Mínimas” da Liga Eleitoral
Católica, pelas quais tanto batalhara seu filho, haviam sido aprovadas, ansiava
pela volta dele. As saudades aumentavam de dia para dia.
Por fim, a confirmação do tão
esperado regresso: a bagagem, que havia sido despachada com antecedência para
São Paulo, é entregue à Rua Marquês de Itu. Foi tal a alegria que este fato
causou a Dona Lucilia que, num transporte de júbilo, ela chegou a oscular, uma
a uma, as malas do filho. No dia já anunciado, quando próxima estava a hora de
sua chegada, tendo ela disposto tudo do melhor modo possível para recebê-lo,
sentou-se em lugar próximo à entrada da casa, no andar térreo. E ali ficou à
espera, rezando, para ter a alegria de abrir-lhe a porta e não adiar, um
instante sequer, o momento de o ver, abraçar e beijar.
Naquele dia a “prosinha” não
ficou para a noite. Dr. Plinio logo lhe contou como tinha sido a viagem, as
“indiscrições” de Dona Maria da Glória, a assinatura da Constituição, o
encerramento das atividades da Assembléia, novidades dos familiares e
conhecidos do Rio...
Dona Lucilia também relatou as
pequenas novas da casa, entre as quais a de que uma de suas tias havia feito um
muito bom negócio, e como era solteira, presenteara a cada uma das três
sobrinhas boa soma de dinheiro. Porém, em vez de dispor dessa quantia para o governo
da casa — haviam-se mudado há pouco e era necessário fazer algumas reformas —
Dona Lucilia preferia pô-la à disposição de seu filho para o que ele quisesse.
Disse-lhe então:
— Em que você quer aplicar esse
dinheiro? Se pretender utilizá-lo para mobiliar nossa casa, dá muito bem para
isso. Mas se tiver outros planos, confio inteiramente em você. Faça como
quiser.
Dr. Plinio respondeu:
— Mãezinha, eu vou pensar um
pouco. Vamos ver como andam as coisas...
Ele desejava saber como correriam
os acontecimentos políticos, pois se os interesses da Igreja o exigissem,
voltaria a se candidatar a deputado, sendo necessário, então, utilizar aquela
verba para sua campanha eleitoral.
Generosa entrega à Causa Católica
Uma vez dissolvida a Assembléia
Constituinte, foram convocadas novas eleições, desta vez não só para a Câmara
Federal como também para as Câmaras Estaduais.
Se Dr. Plinio se candidatasse a
deputado federal e fosse eleito — cogitava com certa apreensão Dona Lucilia —
isso motivaria nova e bem mais longa separação. No entanto, estava ela disposta
a quais quer sacrifícios. Desta vez, porém, as intenções apostólicas dele foram
favoráveis aos maternos anseios. Dado o lugar de destaque que ocupava nas
Congregações Marianas de São Paulo, não queria afastar-se do que era seu campo
de ação por excelência. E aqui se candidatou a deputado estadual, com grande
alívio para sua mãe.
Dr. Plinio teve de enfrentar
sérias dificuldades, porque as circunstâncias não eram tão propícias como por
ocasião da eleição anterior. O Arcebispo de São Paulo, D. Duarte, determinara a
dissolução da LEC, não havendo, portanto, candidatos oficialmente indicados pela
Igreja. Grande desvantagem para Dr. Plinio, pois o seu público era o católico.
Não faltaram vivas e cordiais pressões para que ele se inscrevesse nas chapas
dos dois partidos rivais: o Partido Republica no Paulista, conservador, cuja direção
era integrada por antigos barões do café, e o Partido Constitucionalista,
dirigido por professores universitários e profissionais liberais. Ora, o
eleitorado pessoal de Dr. Plinio dividia-se entre as fileiras de ambos os
partidos. Optando por ser candidato de um destes, afastava-se naturalmente do
outro. Com o que perdia — era inevitável — a outra metade.
Além disso, um irmão do
Arcebispo também se candidatou a deputado estadual, e correu voz entre os
católicos que ficaria desairoso para o ilustre Prelado e, em conseqüência, para
a Igreja, que ele não fosse eleito. Dr. Plinio caminhando pelo centro do Rio de
Janeiro Por esse motivo, de algum modo, o irmão de D. Duarte acabou sendo o
candidato oficioso da Igreja.
Apesar de tantas adversidades,
Dr. Plinio decidiu se apresentar como candidato avulso, em vista de seu
prestígio de líder católico, comprovado na anterior eleição, e das vantagens que
daí poderia auferir para o apostolado.
Ao fazer o orçamento da despesa
de campanha, ele viu que custaria exatamente a quantia recebida por Dona
Lucilia da tia dela. Depois de bem ponderar os prós e contras, procurou sua mãe
a fim de lhe comunicar a decisão de pugnar em defesa da Igreja, como deputado
estadual:
— Mãezinha, eu creio que na
verdade o melhor para mim seria não me candidatar, mas assumir minha cátedra na
Faculdade de Direito e, algum tempo depois, abrir um escritório de advocacia.
Com nossa casa razoavelmente arranjada, iríamos normalizando nossa situação.
Mas a vantagem da Causa Católica consiste em candidatar-me como deputado
avulso. Nessas condições, peço à senhora lançar mão do dinheiro que a senhora
ofereceu para cobrir as despesas de minha campanha.
Dona Lucilia via bem o quanto arriscava
nisso, mas sua deliberação também de há muito estava tomada. Com a mesma
serenidade de sempre, respondeu:
—O que você quiser, você terá!
Todo o meu dinheiro, tudo quanto é meu, você disponha como quiser...
Na difícil situação financeira em
que a família se encontrava, Dona Lucilia dava um magnífico exemplo de
desprendimento em favor dos interesses da Santa Igreja, e de confiança total na
Providência.
Realizaram-se as eleições, em
circunstâncias ocasionais especialmente difíceis para os candidatos avulsos.
Dr. Plinio não conseguiu fazer-se eleger. Com efeito, os candidatos avulsos
eram quatro ou cinco, O mais votado deles fora Dr. Plinio, mas nenhum atingira um
número suficiente de votos para obter uma cadeira.
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