Morte de Dona Gabriela
Dona Lucilia era inteiramente
assim nas ocasiões mais aflitivas. Lembro-me de quando ela perdeu a mãe, a
quem ela queria, respeitava e venerava muitíssimo. Um fatinho pode dar ideia de
até onde ela levava isso.
A casa em que
morávamos era dessas residências de antigamente, térreas e enormes. E a
distância entre o quarto de dormir dela e o da mãe era grande. Minha avó tinha
uma espécie de governanta de casa muito boa, dedicada, correta, que dormia ao
seu lado. De maneira que qualquer coisa que minha avó quisesse, essa mulher
atendia. Ela estava inteiramente bem atendida.
Minha mãe mandou
puxar um cordão elétrico, com campainha, da cama de minha avó até a cama dela;
porque a mãe dela estava velha e, no caso de urgência, podia levar certo tempo
de a tal governanta chegar até o quarto de mamãe, e ela queria, tocando a
campainha, ir correndo atender minha avó.
Quando a mãe dela
morreu, fizeram-se as exéquias e compareceu muita gente. Cumprimenta um, recebe
abraço de outro, perde-se um pouquinho a noção das coisas. Em certo momento me
lembrei: mamãe onde estará? Comecei a procurá-la e não a vi. Com certeza,
pensei, ela se sentiu muito abalada e foi para o seu quarto, e é possível que
esteja com alguma indisposição. Fui ao quarto dela para ver. Ela estava
deitada, em atitude inteiramente serena, com uma fisionomia muito triste, a
posição composta e pensando.
É a tal coisa: o
vagalhão não alcança!
Nunca eu vi vagalhão
algum atingi-la. Em duas vezes, porém, quase a alcançou...
Continua
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