terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Incólume tabernáculo interior – III

Morte de Dona Gabriela
Dona Lucilia era inteiramente assim nas ocasiões mais aflitivas. Lembro-me de quando ela perdeu a mãe, a quem ela queria, respeitava e venerava muitíssimo. Um fatinho pode dar ideia de até onde ela levava isso.
A casa em que morávamos era dessas residências de antigamente, térreas e enormes. E a distância entre o quarto de dormir dela e o da mãe era grande. Minha avó tinha uma espécie de governanta de casa muito boa, dedicada, correta, que dormia ao seu lado. De maneira que qualquer coisa que minha avó quisesse, essa mulher atendia. Ela estava inteiramente bem atendida.
Minha mãe mandou puxar um cordão elétrico, com campainha, da cama de minha avó até a cama dela; porque a mãe dela estava velha e, no caso de urgência, podia levar certo tempo de a tal governanta chegar até o quarto de mamãe, e ela queria, tocando a campainha, ir correndo atender minha avó.
Quando a mãe dela morreu, fizeram-se as exéquias e compareceu muita gente. Cumprimenta um, recebe abraço de outro, perde-se um pouquinho a noção das coisas. Em certo momento me lembrei: mamãe onde estará? Comecei a procurá-la e não a vi. Com certeza, pensei, ela se sentiu muito abalada e foi para o seu quarto, e é possível que esteja com alguma indisposição. Fui ao quarto dela para ver. Ela estava deitada, em atitude inteiramente serena, com uma fisionomia muito triste, a posição composta e pensando.
É a tal coisa: o vagalhão não alcança!
Nunca eu vi vagalhão algum atingi-la. Em duas vezes, porém, quase a alcançou... 

Continua 

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