Como os rochedos batidos pelas ondas
Se a pessoa
internamente julga ter levado, ou estar levando, bem sua vida e que esta corre
segundo a lógica das coisas, ainda que os outros achem que não, ela tem uma
segurança, uma calma interna e uma noção de glória interior, as quais vêm da
consciência tranquila, que constitui um elemento distinto da vida externa e dá
para a pessoa uma calma muito grande, em razão exatamente do bem articulado de
tudo aquilo que ela fez.
Quando não agiu bem,
tem a calma da contrição, do perdão recebido e da vida consertada. E, portanto,
a pessoa vai andando, pois, tendo sido perdoada, é amada por Deus. Essa
sensação de ser amado por Deus proporciona uma convicção ultrarreconfortante, e
o indivíduo pode receber os piores vagalhões da vida, que ele não é atingido no
seu tabernáculo interior. E o fato de não ser atingido nesse tabernáculo lhe dá
uma calma, que pode coincidir com todas as agonias e todas as angústias.
Essa calma não
existe na pessoa que tem seu próprio tabernáculo interior devastado, ou que nem
o possui. É tão sem reflexão sobre sua vida, tão sem história própria, que é
como uma cortiça levada pelas ondas.
A noção da história
interior e da satisfação que essa história pode dar é possível perceber
eminentemente em uma pessoa, mesmo quando vagalhões enormes se soltaram sobre
ela. Exatamente quando chega a hora do vagalhão baixar, a sensação de que o
tabernáculo interno ficou intacto se manifesta. Essa sensação, bem como a de que
o vagalhão foi inútil, dá uma segurança que é meio parecida com a dos rochedos
batidos pelas ondas: vem o mar com aqueles furores e lança ondas que podem dar
respingos que chegam até o alto do rochedo, mas este não se move. Quando o mar
se retira, o rochedo está ali.
Morte de Dona Gabriela, mãe de Dona Lucilia
Continua…
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