Desejo de conviver com seu filho, mesmo que fosse por um instante
Exceto em ocasiões como
aniversários etc., os agrados dela eram como em todas as outras famílias. De
manhã eu beijava a mão, depois o rosto de mamãe; e à noite, antes de dormir,
também. Só isso.
Quando éramos crianças,
minha prima, minha irmã e eu tínhamos a Fräulein1 e estudávamos em um recinto,
no andar superior da casa, que servia como sala de estudos e de brinquedo. Tendo
eu ficado mais velho e a Fräulein sido despedida, pus uma mesa de estudos no
escritório de papai; e mamãe, de vez em quando, entrava.
E o entrar — até o
primeiro ou segundo ano da faculdade isso não desapareceu, embora tenha se
atenuado — era meio para ver se eu não estava perdendo meu tempo fazendo
qualquer bobagem, que a criança faz para não estudar, ou se estava estudando
mesmo.
Ela não propriamente
disfarçava, mas tinha tanta vontade de agradar e ficava tão contente de ter
esta oportunidade natural, que entrava transbordando de carinho. Eu fechava a
porta do escritório de papai — que em geral ficava trabalhando na cidade — não
a chave, mas só com o trinco. Mamãe abria o trinco de um modo inteiramente
diferente do meu. Ela o fazia devagarzinho, entrava e me dizia alguma coisa da
miúda vida cotidiana, por exemplo: “Filhão, você já tomou seu lanche?” Ou
então:
“Filhão, como caiu a
temperatura!” Era tão carinhosa e de tal maneira se percebia que ela queria me
ouvir falar, conviver comigo naquele instantinho, que era uma coisa
extraordinária!
Mamãe era muito ciosa do
meu tempo, mas com uma restrição: se eu fazia algum aceno para ela sentar-se e
conversarmos um pouco, não recusava. Falávamos então sobre o tempo, exames,
coisas muito respeitáveis, etc., mas ela não se impunha nunca. Isso até o fim
de sua vida.
Eu não me lembro de uma
só vez em que ela se sentasse junto à minha mesa de estudos só para conversar,
prosear. Seria uma coisa tão natural numa mãe... Às vezes mamãe entrava e
apanhava uma cadeira porque tinha alguma coisa particular para falar, contava
um fato de família, tratava de algo que era necessário resolver. Mas, fora
desses casos, nunca!
E sua prosinha era leve,
ela ficava tão entretida, contente e agradecida que transbordava. Porém,
bastava notar um pouquinho que eu estava com pressa no estudo para ela
imediatamente se levantar, fingindo que não percebeu. E às vezes até ela dizia:
“Filhão, sua avó está esperando em tal sala, preciso atendê-la, etc.”, ou
alguma coisa assim, mas para não me deixar mal à vontade.
Vê-se, portanto, numa
bagatela como essa, o requinte do esmero. Não é propriamente da polidez. Quem
reduzisse isso à polidez, baixaria o alcance do que estou dizendo. É o requinte
da vontade de agradar, produzindo uma sensação agradável a todo propósito.
Continua no próximo
post
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