quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Amparo maternal

Ao imergir as pessoas no anonimato próprio ao mundo moderno, a Revolução as atira num ininterrupto e desconcertante abandono. Plinio Correa de Oliveira comenta como Dona Lucilia, com sua característica bondade, repleta de ternura e meiguice, servia de amparo para todos que dela se aproximassem, fazendo-os sentir a contínua proteção da Providência.
Havia qualquer coisa nas delicadezas da alma de mamãe, que atraía as almas delicadas. E, pelo contrário, as pessoas imbuídas de um espírito revolucionário não se sentiam atraídas e a rejeitavam. Porque ela era muito compassiva, muito bondosa, muito atenta, muito gentil, de uma gentileza toda feita de matizes, de pequenas delicadezas. E o espírito que eu qualifico de cinematográfico — segundo a mentalidade que se procurou difundir a partir de Hollywood — era fundamentalmente avesso a tudo isso.
Apoio para não ceder às pressões da Revolução
Durante toda a vida de Dona Lucilia, a Revolução esteve numa fase em que, precisamente, afastava-se de tudo aquilo por onde mamãe atraía. Mas também a Revolução colocava contra si todas as almas delicadas, que estranhavam aquele modo pelo qual a vida vinha sendo tocada. E essas almas, se quisessem, poderiam encontrar em Dona Lucilia um apoio, um amparo, para não cederem às pressões da Revolução. E para mim ela foi, neste sentido, um amparo indizível!
Ora, o espírito contrarrevolucionário é precisamente um espírito de força, mas de delicadeza, de gentileza, de amabilidade, de bondade. E a minha alma queria enormemente ser tratada dessa maneira. Posso dizer também que eu era muito propenso a tratar os outros assim. E encontrava no trato dela exatamente a comprovação de que era possível haver sob a luz do Sol alguma coisa assim; do contrário, me pareceria quimérico, irrealizável, absurdo. Se eu não a conhecesse, teria tido muito menos força para conceber e tentar realizar esse ideal.
Preparando o Jacó que lutaria contra Esaú
Nela havia duas qualidades que pareciam antitéticas, mas se completavam muito bem. Ela era muitíssimo carinhosa enquanto notava em mim, ou numa outra criança, a debilidade da infância. Seu entranhado carinho se debruçava para amparar a criança na sua fragilidade.
Quando menino, eu sentia muito que minha debilidade de criança era uma razão especial para ela me querer bem. E não posso dizer quantas vezes eu a vi sorrir a essa debilidade e como ela a manuseava amavelmente, afavelmente, delicadamente, ora brincando, gracejando um tanto, ora explicando um pouco o mundo dos mais velhos, na medida em que uma criança pudesse compreender. E eu me sentia ultra à vontade com a tradução que ela fazia do mundo dos mais velhos para os mais novos.
Eu sentia muito isso também nos cuidados dela para conosco. Mais especialmente, prestava atenção no modo de ela cuidar de mim, é natural. Quer dizer, cuidados com a saúde, com o corpo, com as maneiras — não fazer brincadeiras abrutalhadas —, cuidado com tudo. Um cuidado meticuloso e afetuoso, tudo bem direito, arranjado, como deveria ser, mas de uma observação benevolente e disposta a sorrir a qualquer pequeno defeito, desde que não houvesse a insistência nele. A persistência no defeito ela não tolerava.
Por outro lado, sentia muito nela uma espécie de guindaste: ela me suspendia. Era dotada de uma fortaleza de alma, por onde a força da convicção dela fortalecia minhas convicções. A retidão de sua conduta dava-me retidão na minha. A repulsa que ela fazia do mal, do erro e do feio, fazia-me repudiá-los também.

Eu era um menino muito mole — aliás, pode-se perceber isso pelas fotografias —, e ela me animava enormemente. Para usar uma figura da Sagrada Escritura: de um lado, ela apoiava em mim o Jacó, no que este tinha de delicado em comparação com Esaú; de outro lado, ela preparava em mim o Jacó que lutaria contra Esaú. Nesse sentido também, fez-me um bem colossal! 
Continua no próximo post.

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