Continuação do post anterior
Meu coração está à procura de Plinio e não o encontra
Inúmeros episódios
como esse se repetiram ao longo
de minha
vida. Lembro-me também
daqueles momentos nos
quais a severidade dela se manifestava. Por exemplo, quando na
década de cinquenta
viajei à Europa.
Dona Lucilia
ficava muito apreensiva quando
alguém da família
fazia viagens de
avião, pois naquele tempo os
aviões eram ainda muito primitivos. E atravessar o oceano de avião tinha
seus riscos, os quais
ela não queria
que seu filho passasse. Então,
não cheguei a dizer a ela que ia à Europa. Disse que ia ao Rio de Janeiro — naturalmente
precisava ir ao
Rio para depois ir para a Europa.
Pedi que Dona Lucilia
me preparasse uma mala com muitas roupas,
pois talvez me demorasse um pouco
mais no Rio. Ela parecia estar tranquila, e por isso julguei que não
desconfiasse de nada.
Contou-me um parente
próximo, muito ligado
a ela, que
no dia seguinte ao da viagem, minha mãe pediu que
ele fosse a minha casa. Este parente
chegou, e Dona Lucilia lhe disse:
— Diga-me uma coisa:
onde está o Plinio?
— O Plinio?
E deu uma resposta
evasiva. Entretanto, ela disse:
— Meu coração está à
procura de Plinio e não o encontra.
Procuro-o no Rio e ele não está;
procuro-o em Santos — lugares onde
costumava ir — e Plinio não está lá.
Você precisa me dizer onde está o
Plinio.
Ele sorriu e disse a
ela:
— Lucilia, o Plinio
está na Europa.
— Como Europa?!
— Sim, ele resolveu
ir para a Europa, passar alguns meses, por motivos de seu apostolado.
Então, mamãe chorou e
rezou por mim. Pouco tempo depois, chega
para ela
uma cesta de
flores enorme que
eu tinha encomendado,
calculando a hora aproximada em que ela
saberia da notícia, acompanhada de
uma carta sumamente afetuosa, dirigida a ela.
Não preciso dizer que
ela gostou muito da cesta. À tardinha,
na hora do crepúsculo, chega outra cesta
de flores com outra carta minha. E
durante toda a viagem escrevi várias
cartas a ela — as quais eram invariavelmente respondidas.
Quando voltei
— Dona Lucilia
sabia que estava chegando —, ela estava sentada numa poltrona, no
hall de entrada da casa. Abriu-se a
porta e eu a vi sentada no sofá.
Era costume mamãe
levantar tarde, pois rezava muito à noite, indo
dormir às 3h da manhã. Consequentemente, acordava lá pelo meio-dia e ainda ficava rezando na cama por mais algum tempo, pois, como sofria do fígado, ela devia ficar muito tempo
recostada.
No dia de minha
chegada, porém, ela levantou-se mais
cedo e já estava inteiramente à minha
espera. Quando entrei, abracei-a e beijei-a de modo efusivo.
Dona Lucilia
recuou um pouco
e fixou o olhar no fundo dos meus
olhos. Eu fiquei curioso de perguntar o que significava aquilo. Ela
me disse:
— Graças a Deus, você
ainda é
sempre o mesmo. Era a vigilância materna: um afeto cheio de vigilância,
uma vigilância cheia de afeto.
Plinio Correa de
Oliveira – Extraído
de conferência
de 27/10/1988
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