terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Sumamente tranquila, sumamente vigilante ( cont)

Continuação do post anterior
Meu coração está à procura de Plinio e não o encontra
Inúmeros  episódios  como  esse se repetiram ao longo de  minha  vida.  Lembro-me  também  daqueles  momentos  nos  quais a severidade dela se manifestava. Por exemplo, quando  na  década  de  cinquenta  viajei à Europa.
Dona  Lucilia  ficava  muito apreensiva quando alguém  da  família  fazia  viagens  de  avião, pois naquele tempo os  aviões eram ainda muito primitivos. E atravessar o oceano de avião tinha seus riscos,  os  quais  ela  não  queria  que  seu filho passasse. Então, não cheguei a dizer a ela que ia à Europa.  Disse que ia ao Rio de Janeiro —  naturalmente  precisava  ir  ao  Rio  para depois ir para a Europa.
Pedi que Dona Lucilia me preparasse uma mala com muitas roupas,  pois talvez me demorasse um pouco  mais no Rio. Ela parecia estar tranquila, e por isso julguei que não desconfiasse de nada.
Contou-me um parente próximo,  muito  ligado  a  ela,  que  no  dia  seguinte ao da viagem, minha mãe pediu que ele fosse a minha casa. Este  parente chegou, e Dona Lucilia lhe  disse:
— Diga-me uma coisa: onde está  o Plinio?
— O Plinio?
E deu uma resposta evasiva. Entretanto, ela disse:
— Meu coração está à procura de  Plinio e não o encontra. Procuro-o  no Rio e ele não está; procuro-o em  Santos — lugares onde costumava ir  — e Plinio não está lá. Você precisa  me dizer onde está o Plinio.
Ele sorriu e disse a ela:
— Lucilia, o Plinio está na Europa.
— Como Europa?!
— Sim, ele resolveu ir para a Europa, passar alguns meses, por motivos de seu apostolado.
Então, mamãe chorou e rezou por  mim. Pouco tempo depois, chega para  ela  uma  cesta  de  flores  enorme  que  eu  tinha  encomendado,  calculando a hora aproximada em que ela  saberia da notícia, acompanhada de  uma carta sumamente afetuosa, dirigida a ela.
Não preciso dizer que ela gostou  muito da cesta. À tardinha, na hora do crepúsculo, chega outra cesta  de flores com outra carta minha. E  durante toda a viagem escrevi várias  cartas a ela — as quais eram invariavelmente respondidas.
Quando  voltei  —  Dona  Lucilia  sabia que estava chegando —, ela estava sentada numa poltrona, no hall  de entrada da casa. Abriu-se a porta  e eu a vi sentada no sofá.
Era costume mamãe levantar tarde, pois rezava muito à noite, indo  dormir às 3h da manhã. Consequentemente, acordava lá pelo meio-dia  e ainda ficava rezando na cama por  mais algum tempo, pois, como sofria  do fígado, ela devia ficar muito tempo recostada.
No dia de minha chegada, porém,  ela levantou-se mais cedo e já estava  inteiramente à minha espera. Quando entrei, abracei-a e beijei-a de modo efusivo. 
Dona  Lucilia  recuou  um  pouco  e fixou o olhar no fundo dos meus  olhos. Eu fiquei curioso de perguntar o que significava aquilo. Ela me  disse:
— Graças a Deus, você ainda  é  sempre o mesmo. Era a vigilância materna: um afeto cheio de vigilância, uma vigilância cheia de afeto.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 27/10/1988

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