A par das não pequenas cruzes que Dª
Lucilia pacientemente carregava, duas grandes alegrias a acompanharam até o fim
de seus dias.
A primeira delas provinha da Fé, que
lhe dava a segurança de estar no bom caminho — o da Igreja Católica Apostólica
Romana — e ao mesmo tempo a esperança inquebrantável da salvação eterna. Essa
confiança de, após as tristezas presentes, vir a alcançar o Céu, pelos
infinitos méritos do Salvador, era a alegria fundamental que iluminava como um
luar sua existência.
A segunda era a vida familiar, e no
seio desta, de modo particular, o fato de ter um filho — um “filhão” — ao qual
ela queria muitíssimo bem e que com indizível afeto lhe retribuía. Foi esta uma
das causas mais patentes de sua longevidade, surpreendente, apesar da frágil
saúde e dos sofrimentos que suportou durante toda a vida.
Tanto as grandes alegrias e tristezas
quanto as menores, Dª Lucilia, seguindo o insuperável e sublime exemplo da
Santíssima Virgem, conservava-as como preciosa lembrança, meditando-as em seu
coração. Por sua seriedade de alma, considerava todo o alcance dos fatos, e ia
passo a passo fazendo da vida um severo exame, pois para ela tudo tinha uma
dimensão grandiosa. Com essa profundidade de espírito encarava ela o falecimento
de seus familiares, como o de seu genro Antônio de Castro Magalhães, ocorrido
após uma fria madrugada de inverno.
Na região onde se situava sua fazenda,
no norte do Paraná, a baixa temperatura fazia prever uma forte geada que
comprometeria toda a plantação. Antônio, diante de perspectiva tão ruinosa,
passou a noite inteira a cavalo, orientando os empregados na insana tarefa de
espalhar pelo cafezal certas bombas de fumaça, as quais, segundo os entendidos,
preservariam do desastre a imensa cultura cafeeira. Com o amanhecer passou
definitivamente o perigo de geada e Antônio recolheu-se à sua residência para
descansar. Algumas horas mais tarde, aparentando inteira normalidade,
dirigiu-se à casa do capataz para ordenar algumas providências. Mas o esforço daquela
afanosa e gélida noite fora-lhe fatal: ao cruzar o limiar da porta, caiu
fulminado por um ataque cardíaco. Era 6 de agosto de 1955.
A inesperada notícia provocou profunda
consternação na família. Imediatamente Dr. Plinio viajou para Cornélio Procópio
a fim de cuidar da transladação do cadáver.
Nessa ocasião, Dª Lucilia, apesar da
tão avançada idade, manteve um perfeito domínio de si, procurando ao mesmo
tempo consolar sua filha e sua neta com doces palavras de esperança, para o que
ela, como ninguém, sabia encontrar os termos mais adequados.
Transcrito, com adaptações, da obra
“Dona Lucilia”, de Mons. João S. Clá Dias
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