quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Alegrias e tristezas

A par das não pequenas cruzes que Dª Lucilia pacientemente carregava, duas grandes alegrias a acompanharam até o fim de seus dias.
A primeira delas provinha da Fé, que lhe dava a segurança de estar no bom caminho — o da Igreja Católica Apostólica Romana — e ao mesmo tempo a esperança inquebrantável da salvação eterna. Essa confiança de, após as tristezas presentes, vir a alcançar o Céu, pelos infinitos méritos do Salvador, era a alegria fundamental que iluminava como um luar sua existência.
A segunda era a vida familiar, e no seio desta, de modo particular, o fato de ter um filho — um “filhão” — ao qual ela queria muitíssimo bem e que com indizível afeto lhe retribuía. Foi esta uma das causas mais patentes de sua longevidade, surpreendente, apesar da frágil saúde e dos sofrimentos que suportou durante toda a vida.
Tanto as grandes alegrias e tristezas quanto as menores, Dª Lucilia, seguindo o insuperável e sublime exemplo da Santíssima Virgem, conservava-as como preciosa lembrança, meditando-as em seu coração. Por sua seriedade de alma, considerava todo o alcance dos fatos, e ia passo a passo fazendo da vida um severo exame, pois para ela tudo tinha uma dimensão grandiosa. Com essa profundidade de espírito encarava ela o falecimento de seus familiares, como o de seu genro Antônio de Castro Magalhães, ocorrido após uma fria madrugada de inverno.
Na região onde se situava sua fazenda, no norte do Paraná, a baixa temperatura fazia prever uma forte geada que comprometeria toda a plantação. Antônio, diante de perspectiva tão ruinosa, passou a noite inteira a cavalo, orientando os empregados na insana tarefa de espalhar pelo cafezal certas bombas de fumaça, as quais, segundo os entendidos, preservariam do desastre a imensa cultura cafeeira. Com o amanhecer passou definitivamente o perigo de geada e Antônio recolheu-se à sua residência para descansar. Algumas horas mais tarde, aparentando inteira normalidade, dirigiu-se à casa do capataz para ordenar algumas providências. Mas o esforço daquela afanosa e gélida noite fora-lhe fatal: ao cruzar o limiar da porta, caiu fulminado por um ataque cardíaco. Era 6 de agosto de 1955.
A inesperada notícia provocou profunda consternação na família. Imediatamente Dr. Plinio viajou para Cornélio Procópio a fim de cuidar da transladação do cadáver.
Nessa ocasião, Dª Lucilia, apesar da tão avançada idade, manteve um perfeito domínio de si, procurando ao mesmo tempo consolar sua filha e sua neta com doces palavras de esperança, para o que ela, como ninguém, sabia encontrar os termos mais adequados. 

Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João S. Clá Dias

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